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Capitulo 3: A verdade que não se diz

POV de Aurora

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BAM!

Esbarrei com força em uma parede. Dei um grito, assustada.

— Olha por onde anda! — a parede... falou?

Espera um pouco. Ele não é uma parede! As paredes não reclamam — e com certeza não têm um cheiro amadeirado tão intenso, sedutor e elegante.

Espera... no que eu tô pensando?

Olhei para cima. E dei de cara com a tal "parede". Linda. Aliás, "lindo" é eufemismo.

Cabelo loiro impecável, olhos verdes como esmeraldas — daquele tipo que te leva pra dar uma volta na floresta amazônica em segundos, e depois te traz de volta... montado num cavalo branco e tudo.

Ele era alto. Muito alto. Devia ter, sei lá, 1,90m. Eu tenho 1,70m e ainda assim precisei levantar bem o pescoço para olhar pra ele.

Espera... por que eu tô encarando?

Desviei o olhar, corando. Notei que minhas coisas tinham caído e me abaixei rapidamente para juntá-las.

— Me desculpa — murmurei, sem coragem de olhar de novo para ele.

Mas, num piscar de olhos, ele também se abaixou. Nossas mãos se tocaram. Afastei a minha rápido. A dele estava quente, diferente da minha, que ainda estava úmida por causa do sereno.

— Tá tudo bem? — ele perguntou, me olhando de um jeito calmo.

Entendi o motivo da pergunta: eu devia estar tremendo. Literalmente. E com cara de zumbi.

Balancei a cabeça, tentando me recompor.

— Sim... só estou com pressa. Me desculpa de novo — disse, recolhendo os papéis o mais rápido que pude e me levantando. Comecei a me afastar, mas aí...

— Ei, espera! Você esqueceu isso aqui.

Parei. Me virei devagar. Ele estendia um dos papéis.

— É seu, não é?

— Sim... obrigada — respondi, pegando. E então me lembrei: eram as contas do hospital. Da minha irmãzinha.

Engoli em seco. A dor no peito voltou, e junto com ela o medo. O medo de perdê-la. Mas jurei que daria meu melhor. Por ela. Por nós. Eu iria garantir um futuro para ela.

Olhei de novo para o estranho. Ou para a parede andante, loira e musculosa. Ele me encarava com aqueles olhos verdes que tiram o fôlego. Olhos lindos pra caramba.

Aurora, para de olhar pra ele! Ou você vai acabar ficando aqui o dia todo.

Graças a Deus, o som do meu celular quebrou o momento. Soltei um suspiro que nem sabia que estava prendendo. Tentei achar o telefone na bolsa como quem procura uma agulha no palheiro.

Finalmente encontrei. Olhei o número. Era do hospital.

Não era um bom pressentimento.

Atendi.

— É a senhora Aurora Lemos? — uma moça perguntou, com uma voz calma. Demais. Daquelas que a gente sabe que vem antes de uma má notícia.

— Sim... sou eu...

Nem terminei de falar.

— Seu pai sofreu um ataque cardíaco nesta manhã. Fizemos de tudo para reanimá-lo, mas... Senhora Aurora, sentimos muito. Ele infelizmente não resistiu.

Meu mundo parou.

A visão embaçou. Tudo à minha volta desapareceu. O barulho, as pessoas, as paredes, tudo.

Senti meu corpo se mover sozinho. Virei-me e comecei a andar. Logo aquilo virou uma corrida.

— Ei! — ouvi alguém gritar atrás de mim, talvez o loiro... não sei. Não me importava.

Como eu podia? Estavam me dizendo que o meu pai... o meu paizinho... que ele morreu. Mas eu sabia que era mentira.

Peguei um táxi.

— Para o Hospital Santa Madalena. Rápido! — ordenei.

Meu pai morreu. Meu pai.

O homem que trabalhava em dois empregos. Que sorria mesmo cansado. Que dizia:

> "Um dia, tudo vai ficar bem, filha."

E agora ele se foi. E eu nem me despedi.

Chorei. Chorei forte. E me perguntei:

O que eu vou fazer agora?

Como eu vou continuar?

E a Sofia? O que eu vou dizer pra ela?

Não pode ser. Meu pai é forte. Já passou por tanta coisa. Ele não morreu. Eu vou chegar naquele hospital e provar isso!

— Senhorita? Está me ouvindo? — a voz do taxista me tirou do transe.

— Chegamos.

Revirei a bolsa, tirei qualquer valor e entreguei. Nem contei. Corri para dentro do hospital como se minha vida dependesse disso.

Corri para dentro do hospital. As pessoas me olhavam. Que olhassem. Que julgassem. Que apontassem. Não me importava.

A recepcionista me olhou com pena. Odeio esse olhar. Pena é para quem perdeu. Eu não perdi nada.

— Miguel Lemos. Onde ele está? — perguntei, sem rodeios.

— Sim, mas...

— Só me diz o quarto.

Ela respirou fundo.

— Corredor 2. Quarto 24. Sinto muito...

Não respondi. Recusei aquelas palavras.

Lamento? Eu não aceito lamentos. Meu pai está vivo. Eu vou provar.

Fui direto. Vi os números passando: 16... 19... 20... 22... 23...

Parei. Meu corpo não queria seguir. Os pês ficaram pesados. As lágrimas vieram.

Em frente à porta 24, estava uma adolescente. Cabelos castanhos, olhos âmbar, as mãos na boca. Sentada no chão. Chorando.

— Sofia...? — minha voz saiu fraca.

Ela levantou os olhos. Começou a chorar mais alto. Se levantou com dificuldade, correu até mim e me abraçou. Soluçava.

Eu não conseguia me mover.

A garganta apertada. Um nó sufocante.

E então ela disse:

— Aura... o papai... ele... ele não está respirando.

O mundo, que já estava em ruínas, desabou de vez.

A frase da minha irmã ficou presa no ar como uma sentença de morte. Aquilo me atingiu como uma lâmina fina e fria, direto no peito.

— O quê...? — minha voz saiu num sussurro rouco, como se tivesse esquecido como se fala.

Me afastei lentamente do abraço de Sofia e quando olhei nos olhos dela, vi algo que eu nunca quis ver: desespero puro. Ela estava pálida, trêmula, com os olhos vermelhos como se tivesse passado o dia inteiro chorando — e talvez tenha mesmo.

— Ele... ele estava bem, mas depois piorou. Eles tentaram tudo, mas... — ela mordeu o lábio com força, como se tentasse se punir por dizer aquilo — …mas não conseguiram trazê-lo de volta.

De repente, meu corpo ficou fraco. Tão fraco que precisei me apoiar na parede atrás de mim para não desmoronar. Eu senti tudo ao mesmo tempo: um calor que subiu para a cabeça, depois um frio cortante na espinha. O som ao redor virou um ruído distante. As vozes, os passos, o bip das máquinas... tudo ficou abafado, como se o mundo tivesse sido mergulhado debaixo d’água.

— Não... não pode ser. — murmurei. — A gente ia voltar pra casa, a gente ia… ia jantar juntos hoje… ele prometeu que ia cozinhar para a gente...

Sofia tentou se aproximar de novo, mas levantei a mão instintivamente.

— Me dá só um segundo... só um… segundo — pedi, sentindo as lágrimas descerem antes mesmo de eu perceber que estava chorando.

Fechei os olhos com força, como se isso fosse fazer tudo desaparecer. Mas não desaparecia. A notícia estava ali, ecoando como um trovão dentro da minha cabeça. "Ele não está respirando." Não, não é possível... Ele sempre foi tão forte. Tão sorridente. Ele me prometeu que tudo ia ficar bem!

Senti um aperto no peito. Um sufoco que me deixou sem ar.

A dor da perda é uma coisa que ninguém prepara a gente pra sentir. Ela vem sem piedade, sem lógica, e destrói tudo o que você acreditava ser sólido. Ele era meu pai. Meu porto seguro. Meu herói.

— Por que você não me ligou antes? — perguntei com a voz trêmula, mas sem raiva. Era só o desespero querendo encontrar uma explicação, uma forma de voltar no tempo.

— Eu tentei, Aurora… tentei tantas vezes... mas você não atendia, e depois... eu não queria que você soubesse por mensagem, nem por outra pessoa. Eu esperei, mas ele… ele se foi tão rápido...

Ela desabou em lágrimas de novo, e dessa vez eu a abracei com força. As duas, juntas, chorando como se o mundo tivesse parado.

Porque, de fato, tinha parado.

Pelo menos, o nosso mundo sim.

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[Momento seguinte – Sala de reconhecimento do corpo]

O corredor era longo demais. Cada passo ecoava como um tambor lento em nossos ouvidos. Eu andava com a alma rasgada, guiando minha irmã como se ela fosse uma parte frágil de mim mesma.

A porta foi aberta. E lá estava ele.

Nosso pai.

Deitado, em paz… como se estivesse apenas dormindo. Mas era um sono frio, sem volta.

Me aproximei com hesitação, sentindo o chão oscilar sob meus pés. Toquei a mão dele — gelada. A pele estava cinzenta, sem o calor que tantas vezes segurou minha mão quando eu era criança.

— Pai… — sussurrei. — Por que agora?

Minha irmã se debruçou sobre o peito dele, chorando baixinho.

E então veio a lembrança…

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[Flashback – Alguns anos antes, um domingo no quintal de casa]

— Vamos lá, minhas meninas! Quem cortar mais grama ganha um sorvete! — dizia ele, com um sorriso de orelha a orelha, empunhando um cortador enferrujado.

Eu ria, correndo com a tesoura de jardim, enquanto minha irmã tropeçava na mangueira.

— Pai, isso é exploração infantil! — eu gritava, fingindo revolta.

— Exploração nada! Isso é formação de caráter — dizia ele, erguendo a voz em tom de brincadeira.

Depois, nos sentávamos no banco de madeira debaixo do limoeiro. Ele colocava as mãos atrás da cabeça e olhava o céu.

— Vocês são o meu maior orgulho. Tudo que eu faço é por vocês. Nunca se esqueçam disso.

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Voltei ao presente com os olhos marejados. Engoli o choro e me curvei, beijando sua testa.

— A gente não vai esquecer, pai. Eu prometo.

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O sol estava se pondo, tingindo o céu com tons dourados que contrastavam com o cinza que carregávamos no peito.

Eu caminhava abraçada à minha irmã, que agora parecia mais calma, embora seus olhos ainda estivessem perdidos em algum lugar entre a dor e o vazio.

Foi então que vimos uma figura apressada vindo em nossa direção. O salto de suas botas ecoava na calçada do hospital.

— Aurora! — gritou Margo, com o rosto vermelho e lágrimas nos olhos.

Ela nos alcançou e nos puxou para um abraço apertado, sem dizer uma palavra. A presença dela ali, mesmo sem explicações, foi como um cobertor quente sobre a alma.

Eu chorei de novo. E pela primeira vez desde a notícia, senti que talvez… só talvez… a gente conseguisse suportar isso. Juntas.

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