DORIAN
A água quente do banho escorre por meus ombros, mas não dissolve o que lateja sob a pele. Fecho os olhos por alguns instantes, tentando me manter no presente. Mas é difícil. O silêncio do quarto do outro lado da porta me lembra que nem tudo pode ser lavado com sabão e paciência.
Saio do box, seco o rosto com a toalha e visto apenas a calça de pijama escura. Ainda estou descalço, os cabelos úmidos, a pele aquecida, quando abro a porta do banheiro.
Paro.
O quarto está vazio.
O robe que ela usava está dobrado sobre a poltrona. A cama ainda arrumada. As luzes suaves. Mas ela… não está aqui.
O coração aperta. É ridículo como o pânico pode ser rápido. Como a mente, mesmo depois de tantos anos, ainda sabe exatamente o caminho para o pior cenário.
Ela se foi.
Como antes.
Sem explicação. Sem despedida. Sem chance de conserto.
Minha respiração trava por um segundo. Dou um passo à frente, como se isso fosse acelerar o tempo, reverter o desfecho. Olho para a porta. Está trancada. Nada foi