LARA
O elevador parece mais lento do que nunca, mesmo sendo um dos mais rápidos da cidade. Cada andar que passa é como um degrau a mais para o abismo. Eu estou impecável. Maquiagem sutil. Vestido cinza-chumbo com corte reto. Scarpin preto de salto agulha. O cabelo preso num coque baixo e elegante. Tudo em mim grita compostura. Controle. Mas dentro de mim, o que grita é outra coisa.
Ele está ao meu lado. Terno escuro, expressão fechada, olhos fixos no nada. Poderia ser uma estátua de mármore. Ou um juiz a caminho do veredito.
Não trocamos palavras desde a noite anterior. Desde que a matéria saiu. Desde que ele me olhou como se eu fosse o erro. O perigo. A distração.
Quando as portas se abrem no último andar da empresa, sinto todos os olhares da recepção se voltarem para nós. Dorian é o CEO. Eu sou a esposa contratada. A mulher que estampou uma página de fofoca e ameaçou a imagem cuidadosamente construída da empresa.
Seguimos pelo corredor como dois estranhos obrigados a andar juntos. Q