LARA
A viagem de volta foi mais silenciosa do que eu esperava. Não o silêncio incômodo de quem carrega mágoas ou promessas não cumpridas. Foi um silêncio calmo. Tranquilo. Dorian foi gentil. Atencioso, até. Me ofereceu o casaco quando o avião ficou gelado, pediu meu prato preferido no jantar e, por um segundo longo demais, achei que poderíamos voltar ao eixo.
Que o que aconteceu naquela madrugada — os beijos, a entrega, o toque — não fosse mais uma linha cruzada, mas um ponto de partida.
O avião pousou sem sobressaltos. O carro nos esperava na pista privativa. Entramos lado a lado, e ele abriu a porta para mim como se fosse o marido perfeito de uma ficção bem escrita. Ninguém diria que, poucas horas antes, ele me deixou no quarto com os olhos marejados e o corpo em chamas por algo que nunca chegou a se consumar.
Estamos quase chegando em casa. As ruas são familiares, o bairro com seus muros altos, seguranças discretos e árvores perfeitamente podadas. Dorian mexe no celular, a expressã