LARA
Faz três dias que a casa parece um cenário suspenso.
Nem brigas, nem olhares longos. Só silêncio. Silêncio demais. Dorian sai cedo e volta tarde. Eu acordo sozinha, como sozinha, e passo os dias me dividindo entre a biblioteca, o jardim e a polidez de Eliza.
Não há perguntas. Não há presença. Só ausências ocupando os cômodos com elegância.
Talvez essa seja a forma dele de me punir sem levantar a voz. Me esquecer sem me mandar embora.
Ou talvez ele esteja, simplesmente, cansado de tudo.
Essa noite, a insônia veio como uma velha conhecida.
Levanto sem fazer barulho, visto uma camisola clara e desço até a biblioteca. Acendo apenas uma luminária no canto. A luz morna preenche o ambiente com conforto discreto. Me sento na poltrona próxima à janela, abraçada a um livro que não consigo terminar desde o segundo dia aqui.
Ler me ajuda a manter a mente longe dos pensamentos insistentes.
Pelo menos, era o que eu esperava.
Ouço a porta da frente sendo aberta com um clique abafado.
O relógio