A porta da limusine se fecha com um clique abafado.
Dorian entra logo depois, sem dizer uma palavra. Se acomoda no banco oposto, o olhar perdido na cidade que desfila em vultos por trás dos vidros fumês. O silêncio entre nós é mais do que ausência de som — é presença. Um terceiro corpo dentro do carro.
A música clássica que toca nos alto-falantes é baixa, quase inaudível, mas irrita. Tenta ser calmaria, mas apenas reforça o incômodo. Nenhum de nós está em paz.
Minhas mãos estão frias. Ou talvez seja o sangue que ainda não voltou a circular depois do beijo. Depois da provocação. Depois do que não conseguimos dizer.
Ele me olhou como se soubesse exatamente quem eu era. Como se, por um instante, tivesse esquecido por que me odeia.
Cruzo as pernas e seguro a taça de champanhe deixada no console. Levo aos lábios por impulso. O gosto morno e metálico combina com o que restou da noite: amargura vestida de elegância.
Dorian passa a mão pelos cabelos, o relógio reluzindo sob a luz interna. Fin