LARA
Tomei banho cedo. Me vesti como quem vai para uma reunião de trabalho, e não para selar um pacto com o próprio passado.
Escolhi uma calça de alfaiataria preta, uma blusa de seda bege e um blazer claro que combina com os dias mais frios da cidade. Nada de vestidos, nada de doçura. Hoje não sou filha. Sou ponte. Ou trincheira. Ainda não sei.
Não avisei a Dorian.
Ele me perguntou, mais cedo, se eu queria que ele adiantasse a reunião da manhã.
— Não precisa — eu disse, beijando sua boca com calma. — Vai ser um dia tranquilo.
Mentira.
Mas uma que ele me deixou contar.
Entro no carro com destino a um pequeno edifício comercial em uma rua discreta de São Paulo. O lugar escolhido por ele. Um escritório alugado por dia. Salas vazias para conversas que ninguém deve ouvir.
Subo de elevador com as mãos frias.
Não por medo.
Mas porque o que estou prestes a fazer tem gosto de rendição.
Ele me espera numa sala com vista para a cidade. As janelas amplas deixam a luz bater sobre os cabelos grisal