LARA
Gosto do silêncio que vem depois do riso, depois do vinho, depois da presença de pessoas que nos fazem esquecer — mesmo que por algumas horas — que o mundo ainda guarda suas ameaças.
Me despeço de Catarina com um abraço longo. Ela me segura com mais força do que o habitual. David está encostado à parede, tentando parecer blasé, mas há um brilho discreto nos olhos dele quando observa minha cunhada. Benjamin já foi, com a desculpa de que precisa dormir para ser o melhor no trabalho.
Dorian me conduz até nosso quarto em silêncio. Não porque não saiba o que dizer — ele sempre sabe. Mas porque aprendeu a ouvir o que não é dito.
Assim que entramos, ele fecha a porta devagar. A penumbra é suave, as luzes acesas apenas no modo mais baixo. O quarto parece um abrigo flutuando em outro plano. Meus ombros relaxam sem que eu perceba. Tiro os brincos, sento-me na beira da cama e suspiro como se esvaziasse o corpo inteiro.
Dorian se aproxima. Tira o paletó com gestos lentos. Arregaça as mangas.