LARA
O carro desacelera diante do portão, e nossa casa se ergue à minha frente como um lembrete. De tudo o que fomos. De tudo o que voltamos a ser. De tudo que ainda não sabemos enfrentar.
Dorian segura minha mão com força, como se pudesse impedir o que está por vir. Como se pudesse me proteger do mundo com o simples toque dos dedos. E, por um instante, quero acreditar que ele pode. Que o que construímos nas montanhas é suficiente para suportar qualquer tempestade.
Mas essa não é uma tempestade feita de vento e gelo.
É feita de sangue.
De laços.
De ausências mal resolvidas.
Entramos juntos. Ele leva nossas malas com facilidade, como se o peso físico fosse leve diante do emocional que sei que carrego. A casa está em silêncio, e por um segundo penso que minha mãe ainda não voltou da consulta.
Mas ela está ali. Na sala. Sentada no sofá, com um livro no colo e os óculos tortos no rosto. Parece bem. Mais do que antes. Como se os dias em que estivemos fora tivessem feito bem a ela.
— Mãe? —