LARA

O jatinho corta o céu como se não existissem limites entre o que fomos e o que ainda podemos ser. Pela primeira vez em dias, ou talvez semanas, o mundo parece distante. Pequeno. Inofensivo.

Dorian está ao meu lado, com uma taça de vinho tinto esquecida entre os dedos. Ele não bebeu. Assim como eu, parece mais concentrado em absorver o silêncio do que em preenchê-lo com qualquer coisa.

Mas é ele quem fala primeiro.

— Como está se sentindo, amor?

Eu demoro a responder. Olho pela janela, observo o reflexo da minha própria expressão ali — séria demais, pensativa demais — e suspiro antes de encará-lo.

— Ainda não sei. Mas estou melhor do que estive nos últimos dias. — Desvio o olhar. — Melhor por estar aqui.

Ele assente devagar.

— Achei que você fosse embora — ele confessa, com a voz baixa. — Quando te vi com aquela mala…

— Eu ia. — Não minto. — Eu estava no modo fuga. Como sempre.

— Mas ficou.

— Porque você me impediu.

Um silêncio denso se instala, até que ele sorri de canto.

— Às ve