O cheiro amadeirado da sala do Eduardo sempre me trazia uma sensação ambígua — entre o alívio de estar sendo amparada e o peso de estar, mais uma vez, enfrentando algo que parecia maior do que eu. Sentei-me de frente para ele, com as mãos entrelaçadas no colo, como se isso bastasse para manter minha ansiedade sob controle.
— Henrique entrou com uma ação — ele começou, com o tom calmo de sempre, embora seus olhos estivessem visivelmente irritados — tentando legitimar a transferência do apartamento como um ato voluntário e consciente da sua parte. Basicamente, ele quer provar que você assinou por vontade própria.
Senti minha garganta secar. Eu já esperava algo assim, mas ouvir em voz alta era diferente. Era real. Palpável.
— E o que isso significa pra mim? — perguntei, tentando manter a firmeza.
Eduardo cruzou as mãos sobre a mesa.
— Significa que ele vai tentar inverter os fatos. Alegar que houve um acordo. Se conseguirmos provar que houve má-fé, ou que você foi induzida ao