O amanhecer chega devagar, como se tivesse receio de nos interromper. A luz cinzenta da chuva de São Paulo invade o quarto por entre as cortinas entreabertas, iluminando o rosto de Isadora adormecida ao meu lado.
Não sei em que momento da madrugada peguei no sono, mas agora desperto com a sensação estranha de estar exatamente onde queria, e deveria estar. O calor do corpo dela ainda colado ao meu, a respiração tranquila, o braço dela repousando sobre meu peito como se nunca tivesse me deixado.
Fico apenas observando, tentando gravar cada detalhe. A pele suave, os lábios entreabertos, uma mecha de cabelo caindo sobre o rosto. Tenho vontade de afastar, de tocar, mas me contenho. Não sei se posso. Não sei se tenho esse direito.
Mas meu corpo não entende essas barreiras. Sou homem, e ter Isadora tão perto, tão entregue ao sono, desperta em mim coisas que eu preferia não confessar agora. Respiro fundo, tentando me controlar, quando sinto ela se mexer.
Isadora abre os olhos devagar