Sebastian
Saio cedo de casa, antes mesmo de o sol nascer completamente. O silêncio do corredor me acompanha até a porta, e evito olhar para trás, porque sei que não encontrarei nada além de vazio. Não quero cruzar com Isadora logo pela manhã. A lembrança do olhar dela na noite passada ainda me atravessa — decidido, frio, cheio de mágoa. Eu a conheço. Não o suficiente para compreender todos os seus silêncios, mas o bastante para saber que, quando toma uma decisão, não volta atrás facilmente. E o divórcio estava estampado no tom da voz dela, como uma sentença que não posso reverter com explicações ou pedidos de desculpa.
O carro desliza pela cidade em movimento lento, ainda sonolenta. A cada esquina, sinto o peso do que estamos vivendo se alojar ainda mais fundo no peito. Isadora é o amor da minha vida, mas eu mesmo a empurrei para essa distância. Não consigo falar, não consigo dividir, não consigo explicar. Penso que é para protegê-la, mas talvez só esteja piorando mais as coisas