Nesta manhã, acordei decidido a me casar com o amor da minha vida. Nunca conheci alguém tão incrível quanto a Elisa, uma menina gentil, que entrega o coração em tudo o que faz. Foi no instante em que a vi que me apaixonei, e desde então travo uma batalha silenciosa para manter esse amor vivo. Mesmo que seja exaustivo estar sempre me guerra com minha família por Elisa, eu sei que ela vale cada esforço.

O sol entrava tímido pela janela, iluminando o quarto com uma claridade suave. O cheiro das flores que haviam chegado cedo para o casamento ainda pairava no ar, e meu reflexo no espelho mostrava um homem que, pela primeira vez, parecia seguro de sua escolha. Eu ajeitava o terno, respirava fundo, e a cada botão fechado era como se estivesse costurando a certeza de que Elisa era meu destino.

Foi então que minha mãe invadiu o quarto sem sequer bater. Pesando completamente o clima. Sua presença carregava a mesma força de uma tempestade, arrastando consigo o ar leve da manhã. O rosto dela era pura fúria, e nas mãos segurava um envelope branco com tanta força que parecia capaz de rasgá-lo só pelo ódio. Eu sabia que ela não aceitaria esse casamento. Sabia que tentaria me impedir de alguma forma. Mas estava decidido, mais do que nunca.

— Você não vai se casar com essa órfã! — disparou, a voz cortando o ambiente como um chicote. O dedo estendido apontava para mim como uma acusação ou como se quisesse queimar minha pele com a fúria dos seus olhos.

— Mãe, já conversamos sobre isso. Eu vou me casar com a Elisa! — respondi, tentando controlar a voz, mas deixando escapar toda a coragem que ainda me sustentava. — Quantas vezes terei que dizer que eu a amo?

Ela respirou fundo, inflando o peito como se buscasse se recompor, mas os olhos permaneciam venenosos.

— Filho, escute a sua mãe. — a voz veio baixa, arrastada, carregada de ameaça. — Existem muitas como esta mulher. Eu conheço bem o tipo dela. Finge ser doce, mas no fundo não passa de uma interesseira.

— Eu a conheço melhor do que ninguém. Elisa não é assim! — rebati, sentindo meu sangue ferver.

— Até quando vai ficar contra a sua mãe, para defender essa miserável? — agora sua voz era uma lâmina afiada. — Você não me deixa outra escolha. — Ela ergueu o envelope, como quem ergue uma arma carregada. — Aqui está um milhão de reais. É o que vou oferecer a ela hoje, para que desapareça da sua vida. Você verá que tudo isso não passa de interesse.

As palavras ficaram suspensas no ar. Eu tentei responder, mas a indignação me engasgava. Antes que pudesse reagir, ela arrancou o envelope da minha mão, e a raiva estampada em seu rosto não deixava espaço para qualquer contestação.

Na porta, ela parou. Voltou-se para mim e disse, com frieza cirúrgica:

— Se você quer assumir a empresa da família, não apareça nesse casamento. Esqueça essa indigente e siga sua vida.

A porta se fechou atrás dela com um estrondo que reverberou no quarto inteiro. Fiquei imóvel, encarando o vazio, sentindo o chão fugir dos meus pés. Quando acordei essa manhã, não imaginei que era esse o rumo que minha vida iria tomar.

Sentei-me à beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça entre as mãos. Minhas pernas tremiam, meu peito queimava. O perfume das flores, que antes trazia esperança, agora parecia sufocar.

Fechei os olhos. Imaginei uma vida sem Elisa: fria, mecânica, uma existência programada. E então a imaginei ao meu lado: um futuro incerto, cheio de obstáculos que minha família colocaria no caminho, mas ainda assim um futuro cheio de cor. Era como olhar para dois mundos completamente diferentes e saber que apenas um deles poderia existir.

O turbilhão de pensamentos me arrastava para todos os lados. A decisão pesava sobre meus ombros como um fardo impossível de carregar. Mas, aos poucos, a clareza foi se formando, cruel e definitiva. Se eu escolhesse Elisa, perderia tudo: família, herança, empresa. E ainda a colocaria no centro de uma guerra que ela não merecia enfrentar.

Minha escolha foi uma faca rasgando meu coração. Eu a amo, mas que tudo. Porém, decidi deixá-la. Cada minuto que passava desde esse instante me destruía por dentro. Saber que ela estava na festa, esperando por mim, enquanto minha mãe a humilhava sem piedade, era insuportável. Quando Elisa me ligou, minha voz saiu firme, mas apenas porque reprimi toda a dor que ameaçava me despedaçar. Eu sabia que ela jamais me perdoaria. Eu perdi meu grande amor.

Quando minha mãe voltou para casa, rindo vitoriosa, parecia ter vencido uma guerra. Eu, porém, só conseguia pensar no que Elisa estava sentindo. Me coloquei no lugar dela, e a dor me atravessou como uma lança. Eu nunca vou me perdoar.

Então veio o golpe final.

— Seu grande amor vai se casar com outro homem. — disse ela, e essas palavras me derrubaram.

Eu chorei, pela primeira vez em anos, sem conseguir me conter. A ferida se aprofundou quando o próprio celular vibrou com a mensagem dela. Uma foto. A certidão de casamento. Elisa havia se casado de verdade. Eu queria surtar, chorar, gritar com minha mãe, já que ela é a culpada.

— Mãe, olha isso! — corri até ela, mostrando o celular, minha voz embargada. — Elisa realmente se casou com outro.

Ela apoiou a xícara de chá sobre a mesa com calma, pegou meu celular e analisou a foto com desdém.

— Tenha calma, meu filho. — disse, quase sorrindo. — Ela só quer te deixar com ciúmes, esperando que você volte correndo. Esse documento nem deve ser verdadeiro.

Foi nesse momento que o telefone dela tocou. Ela atendeu distraída, ainda com o ar triunfante.

— Alô?… O quê?… — a voz dela mudou de imediato. Endireitou-se, levantando-se da cadeira. Os olhos se arregalaram de surpresa, depois de pânico. — Como assim a Kingsley cancelou todas as colaborações conosco? Por quê??

O grito ecoou pela sala, e vi, pela primeira vez, minha mãe perder o controle.