Valéria nunca teve silêncio.
Desde menina, o mundo ao seu redor era uma sinfonia de sussurros, passos que não pertenciam a ninguém e sorrisos que não alcançavam rosto algum. Cresceu em uma casa velha com a avó, uma benzedeira que dizia que “os dons são bênção e maldição ao mesmo tempo”.
Aos seis, viu o espírito da mãe morta sentada no pé da cama, chorando. Aos oito, foi expulsa da escola por gritar no meio da aula com uma entidade que ninguém mais via. Aos doze, perdeu a avó — a única que acreditava nela — e foi enviada para um abrigo. Lá, aprendeu a calar as vozes, fingir normalidade e usar o medo como escudo.
Mas o silêncio nunca veio.
Valéria cresceu como mulher de poucas palavras, olhar afiado e coração calejado. Enquanto outros fugiam dos mortos, ela os enfrentava. Começou ajudando espíritos a encontrar descanso, em segredo. Mais tarde, passou a caçar os que se alimentavam do medo alheio. Ganhou cicatrizes, respeito e um apelido entre os que conheciam o mundo oculto: a Voz do Sil