Quando Miguel tocou o trono, não sentiu poder, nem glória. Sentiu peso. O peso de mil almas condenadas, de escolhas erradas, de todos os que sucumbiram à escuridão. O trono não era um prêmio. Era um fardo.
As sombras do salão se agitaram, tentando envolvê-lo. Mas ao invés de o dominar, elas hesitaram. O coração de Miguel não era feito das trevas que alimentavam o trono - era forjado nas dores que ele enfrentou, nos amores que o moldaram, nas almas que salvou.
De olhos fechados, ele enfrentou a essência do Rei das Sombras: uma torrente de memórias corrompidas, gritos de espíritos escravizados, a dor de um menino que foi abandonado no momento em que mais precisou de ajuda. Era como reviver sua própria história, mas distorcida.
Então, Miguel falou.
- Eu reconheço sua dor. Mas eu não sou você.
O salão tremeu. O reflexo do Rei gritou, rachando o espelho negro. A forma sombria que o acompanhava se contorceu e, por fim, se partiu como vidro.
Luz. Não uma luz suave, mas intensa, dourada e azu