O portal para o Vazio Raiz não era uma fenda aberta ou uma rachadura flamejante no espaço. Era um espelho antigo, enterrado no altar da igreja, coberto de símbolos escritos em sangue seco. Miguel respirou fundo, tocou a superfície com a palma da mão, e tudo se desfez em escuridão.
Quando abriram os olhos, estavam em outro mundo.
A gravidade era incerta. O céu parecia uma massa líquida em espiral, e as árvores — se podiam ser chamadas assim — eram feitas de ossos e sombras. O grupo havia sido separado. Cada dupla caíra em um ponto diferente do Vazio, como se o próprio plano os tivesse dividido propositalmente.
Miguel e Valéria caíram em um vale silencioso, onde as vozes de suas lembranças ecoavam em forma de brisa. Cada passo revelava uma memória. O abraço de Clara. O beijo da morte. O choro do menino que queria apenas ser amado.
— Isso aqui não é um campo de batalha — sussurrou Valéria, — é um campo de culpa.
Subitamente, surgiu diante deles a imagem de Clara... viva. Sorrindo. Estend