Capítulo 2
Eu estava parada no batente da porta do escritório.

Marco desligava o telefone, o rosto ainda corado pela ternura da ligação com Isabella.

Mas, quando me viu, tudo desapareceu.

Em seu lugar, surgiu a frieza de sempre.

— Samara. O que está fazendo aqui?

Seu tom era o de quem falava com uma estranha indesejada.

A antiga eu teria chorado. Teria perguntado por que ele era tão frio.

Agora, só tive vontade de rir.

— Esta é a minha casa, Marco. Ou esqueceu? — Deixei as palavras suspensas no ar.

Até que Marco terminasse de devorar os negócios da família Romano, eu ainda era a responsável por tudo ali.

Um lampejo de raiva cruzou o rosto dele.

— Quis dizer que deveria ter batido. Estou tratando de negócios importantes da família.

— Planejar o meu assassinato agora faz parte dos "negócios da família"? — Minha voz estava calma, mortalmente calma.

A cor sumiu do rosto de Marco.

— O que você ouviu?

— O suficiente. — Caminhei até o bar de uísques do meu pai e servi um copo. — Foi tudo muito… comovente.

Nesse instante, a porta do escritório se abriu.

Isabella entrou, usando o vestido de noiva exclusivo da Valentino.

Meu vestido de noiva.

E agora era ela quem o vestia.

Isabella fingiu surpresa, levando a mão à boca.

— Oh, nossa! Samara, eu não sabia que você estava aqui.

Virou-se para Marco, os olhos cheios de charme meloso.

— Querido, você não disse que ela ainda estava aqui.

A expressão de Marco suavizou instantaneamente.

— Isabella, não precisa se desculpar. Logo tudo isso será nosso.

Senti a sala girar.

Uma lembrança da vida passada me atingiu.

Eu, neste mesmo vestido, chorando diante do espelho.

Porque Marco havia dito que Isabella ficava melhor de branco.

— O branco é puro demais para você, Samara. Não acha que o vermelho combina mais?

No fim, fui para o altar com um vestido vermelho-sangue.

Como um animal levado ao abate.

E agora Isabella estava ali, usando meu vestido de noiva, exibindo sua vitória.

— Esse vestido é lindo. — Disse eu, com uma risada leve.

Isabella congelou, claramente sem esperar aquela reação.

— É mesmo? Achei que ficaria brava. Afinal, ele foi feito para você.

— Brava? — Balancei a cabeça. — Por quê? Ele fica perfeitamente em você.

Aproximei-me, examinando o tecido.

— Sabe, eu sempre achei este vestido um pouco demais. Muito pesado para mim.

O sorriso de Isabella ficou um tanto rígido.

— É mesmo?

— Mas em você é perfeito. — Meu sorriso se alargou. — Afinal, uma mulher como você precisa de um bom figurino para interpretar o papel.

O ar na sala ficou tenso.

O rosto de Marco endureceu.

— Samara, o que está querendo dizer?

— Estou elogiando a Isabella. — Voltei-me para ele. — Não acha que ela está linda?

O olhar de Marco recaiu sobre Isabella, cheio de uma necessidade feroz de protegê-la.

— Claro que está linda. Isabella fica linda em qualquer coisa.

As palavras foram como uma faca afiada atravessando meu peito.

Na outra vida, ele nunca me chamou de bonita.

Nem mesmo nas nossas fotos de casamento; parecia estar em um funeral.

— Bem, já que vocês dois são o par perfeito, não vou atrapalhar. — Virei-me para sair, mas Marco me deteve.

— Espere. — Pegou meu uísque favorito no armário. — Um drinque? — Tentou suavizar a voz. — Precisamos conversar.

Olhei para a garrafa.

Eu me lembrava. Sempre que Marco me feria, ele aparecia com uísque para "fazer as pazes".

Como se uma dose pudesse apagar as feridas.

— Não, obrigada. — Respondi firme. — Eu não bebo.

Marco franziu o cenho.

— Você nunca foi assim.

— As pessoas mudam, Marco. — Encarei-o nos olhos. — Às vezes, mudam para sobreviver.

Isabella se intrometeu:

Isabella cortou a conversa. — Talvez a Samara só necessite de um tempo para se adaptar a esse novo acordo.

Sua voz soava doce, mas seus olhos brilhavam de triunfo.

— Falando em acordo… — Falei, como se tivesse acabado de lembrar. — Marco, preciso do fundo fiduciário da minha mãe.

O sangue fugiu do rosto de Marco.

— Que fundo?

— Não se faça de tolo. — Minha voz gelou. — Minha mãe deixou cinquenta milhões de dólares para mim antes de morrer. Para o meu futuro. Quero agora.

Marco e Isabella trocaram olhares.

Vi o pânico neles.

Marco gaguejou uma desculpa:

— Esse dinheiro… foi reaplicado. Um investimento essencial para a família.

— Que investimento?

Ele desviou os olhos.

— A Lágrima da Sicília. Comprei para Isabella. Foi um… gesto de boa vontade para os Falcones.

A Lágrima da Sicília.

Preço em leilão: quarenta e oito milhões de dólares.

O dinheiro de sangue da minha mãe, usado por esse homem para comprar um enfeite para outra mulher.

Senti uma onda de vertigem, quase desmaiei.

Isabella ergueu a mão esquerda com orgulho. O diamante cor-de-rosa brilhou sob a luz.

— É lindo, não é? Marco disse que só eu era digna dele.

Olhei fixamente para a joia, lembrando-me da mão da minha mãe entrelaçada na minha enquanto morria.

"Samara, ganhei este dinheiro com a minha vida. Se algum dia precisar fugir, não hesite em usá-lo."

Agora, o dinheiro que ela conquistara com sua vida enfeitava a mão de outra mulher.

Respirei fundo, lutando contra o impulso de gritar.

— Entendi. — Disse apenas isso.

Virei-me e caminhei até a porta.

— Samara. — Marco me chamou, a voz baixa e carregada de ameaça.

Ele se aproximou, o tom duro:

— Não esqueça seu lugar, Samara. Você é uma herdeira Romano. Sua fraqueza é a nossa fraqueza. E, neste momento, precisamos dos Falcones.

Ele bateu a porta do escritório atrás de mim. O som ecoou como um tiro.

Fiquei no corredor, mais sozinha do que nunca.

A casa onde cresci agora me parecia mais sufocante que uma prisão.

Mas eu tinha a chave.

O nome no pacto de sangue já havia sido trocado.

Logo, Marco descobriria que não havia ganhado uma ferramenta, mas sim a mulher que realmente desejava.

E eu, enfim, estaria livre deste inferno.
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