Nos dias seguintes, comecei a vender meus objetos luxuosos em segredo.
Bolsas de edição limitada, colares de diamantes, obras de arte inestimáveis.
Tudo o que minha mãe havia escolhido para mim.
Agora, eram meu bilhete para sair deste inferno.
Movi o dinheiro por meio de uma empresa offshore para uma conta na Suíça.
Marco não desconfiava de nada.
Estava ocupado demais planejando uma "lua de mel" com Isabella.
Na manhã do terceiro dia, Marco bateu à minha porta.
— Samara, preciso falar com você. — A voz dele estava um pouco mais suave do que antes, mas os olhos continuavam vazios.
Abri a porta. Ele segurava um cheque.
— Isto é para você. — Entregou-me. — O fundo fiduciário foi usado, mas não vou deixá-la sem nada.
Olhei o valor.
Um milhão de dólares.
Uma compensação generosa, segundo ele, pela herança de cinquenta milhões que minha mãe havia deixado.
A antiga eu teria chorado de gratidão, acreditando que ele estava cuidando do nosso futuro.
A nova eu teve vontade de rir na cara dele.
— Obrigada pela sua generosidade, Marco. — Peguei o cheque. Minha calma o surpreendeu.
— E estou levando Isabella para Las Vegas. — Continuou. — A família tem alguns assuntos a tratar por lá.
— Que bom. — Assenti. — Divirtam-se.
Marco franziu o cenho.
Minha obediência o deixava nervoso.
Na vida passada, meus surtos eram meu único escudo. Ele sabia que eu chamaria os antigos guardas do meu pai e assistiria ao império dele queimar. Esse medo me manteve viva.
Desta vez, meu silêncio era a arma.
— Você… você realmente não se importa?
— Por que me importaria? — Sorri, vazia. — Negócios são negócios.
Marco me encarou por um longo tempo, os olhos cheios de confusão e inquietação.
— Talvez devêssemos fazer os retratos oficiais da família primeiro. — Disse, de repente. — É importante para a imagem da família.
Eu sabia que era um teste.
Um ritual formal para garantir que eu ainda estava sob seu controle.
— Claro. — Respondi, dócil. — Quando?
— Hoje à tarde. — Um lampejo de orgulho brilhou em seu rosto. — Reservei o melhor fotógrafo de Chicago.
Enquanto falávamos, Isabella desceu a escadaria com leveza.
Usava um tailleur rosa da Chanel, doce e inocente como um cordeiro.
— Querido, sobre o que vocês dois conversam? — Entrelaçou o braço no de Marco.
— Vamos tirar nossos retratos de família. — Marco respondeu, suavizando a voz para ela.
Os olhos de Isabella se iluminaram.
— Sério? Posso ir também? — Virou-se para mim, fingindo pedir permissão. — Claro, se Samara não se importar.
A antiga eu teria recusado sem hesitar.
Um retrato de família era sagrado. Somente para membros oficiais.
Mas agora? Eu mal podia esperar que ela fosse.
— Claro. — Respondi. — Como nossa aliada mais importante, a senhorita Falcone deve estar presente.
O olhar de Marco ficou ainda mais complicado.
Ele começava a perceber que eu havia mudado — mas não fazia ideia do que isso significava.
Naquela tarde, chegamos ao estúdio mais exclusivo da Michigan Avenue.
O fotógrafo era um alemão chamado Andreas, que só fazia retratos para a elite.
— Sr. Corvini, é um prazer. — Andreas nos cumprimentou. — Hoje faremos o retrato oficial do herdeiro da família, correto?
— Sim. — Marco assentiu. — Esta é minha noiva, Samara Romano.
O título me feriu como uma farpa.
Mesmo agora, ele ainda me via como sua propriedade.
— E esta adorável dama? — Andreas gesticulou em direção a Isabella.
— Isabella Falcone. — A voz de Marco suavizou. — Uma… amiga da família.
Uma amiga da família.
Foi assim que ele a chamou em nossa vida passada também.
Até o dia da minha morte, eu era a "esposa", e ela sempre a "amiga".
Mas todos sabiam qual das duas ele realmente amava.
— Antes de começarmos, preciso de um adereço. — Disse Marco, indo até uma caixa de joias antiga.
Dentro estava o anel de rubi dos Corvini, um relicário passado por cinco gerações.
Simbolizava o poder da matriarca da família.
Na outra vida, eu só usei aquele anel depois do casamento.
E mesmo assim, nunca tive o poder que ele representava.
Marco pegou o anel e começou a caminhar em minha direção.
— Samara, este é…
— Uau! — Isabella gritou de repente. — Esse anel é deslumbrante!
Sem pedir, arrancou o anel da mão de Marco.
— Posso só experimentar? — Perguntou, piscando seus grandes olhos inocentes.
O instinto de Marco foi impedi-la, mas o olhar suplicante dela o amoleceu.
— Tudo bem. Mas apenas para experimentar.
A indulgência dele foi mais uma ferida em meu coração.
O anel da matriarca Corvini, deslizado tão facilmente no dedo de outra mulher.
Isabella o admirou, encantada.
— Parece que foi feito para mim!
Andreas começou a preparar o equipamento.
— Vamos começar com algumas fotos do Sr. Corvini e da Srta. Falcone, enquanto o anel está no dedo dela.
Observei Marco e Isabella posarem. Abraçaram-se, beijaram-se, entrelaçaram-se em intimidade.
Andreas tirou ao menos uma centena de fotos.
Em todas, os olhos de Marco estavam cheios de uma ternura que nunca me mostrou.
— Agora, o Sr. Corvini e a Srta. Romano. — Andreas finalmente me chamou.
Quando Marco caminhava em minha direção, Isabella "acidentalmente" esbarrou no equipamento.
A caríssima Hasselblad caiu no chão, a lente se espatifando.
— Meu Deus, como sou desastrada! — Isabella levou as mãos ao rosto, fingindo horror.
O rosto de Andreas empalideceu.
— A câmera… não poderemos continuar hoje.
Marco franziu o cenho, mas ao ver as lágrimas nos olhos de Isabella, derreteu-se.
— Está tudo bem. Remarcaremos. Não se culpe.
Assisti à cena com frieza.
O "acidente" de Isabella.
A indulgência de Marco.
E eu, mais uma vez, esquecida.
Exatamente como da última vez.
De volta à mansão, Marco me chamou ao escritório.
— Tenho algo para você.
Ele tirou uma passagem aérea da gaveta.
Somente ida. Destino: Sicília.
— O que é isso? — Perguntei.
— Acho que você precisa de férias. — Disse Marco, evitando meus olhos. — Temos uma villa da família na Sicília. Pode descansar lá por um tempo.
Olhei a data no bilhete.
Três dias a partir de hoje.
— Isto é exílio. — Afirmei.
O rosto de Marco endureceu.
— Não é exílio. É para sua proteção. Chicago não está segura para você agora.
— E quando virá me buscar?
Ele ficou em silêncio por um longo momento.
— Depois que eu estabilizar a aliança com os Falcones aqui nos Estados Unidos.
A resposta confirmou tudo.
Ele estava me despachando para poder ficar com Isabella sem incômodos.
— Entendi. — Disse, guardando o bilhete. — Obrigada por ter providenciado isso.
Minha docilidade o deixou desconfortável de novo.
— Samara, você…
Ele foi interrompido pelo guincho de pneus lá fora.
Corremos até a janela e vimos um Lincoln preto derrapar diante dos portões da propriedade.
Um segundo depois, o vidro abaixou e o cano de uma arma surgiu.
A expressão de Marco mudou.
— Abaixem-se!