Vinte anos de casamento terminaram com meu assassinato.
Meu marido, Marco Corvini, e meu próprio filho foram os responsáveis por levá-lo a cabo.
Claro, ele já havia devorado o império da minha família.
Tudo por Isabella Falcone, a princesa dos nossos rivais.
Abri os olhos. Eu estava de volta.
De volta à igreja, no dia do meu juramento de sangue com Marco, um dia depois do enterro dos meus pais.
— Em nome das famílias Romano e Corvini, testemunhamos este juramento de sangue. Um voto para unir dois impérios. No sangue e na lei. — A voz do sacerdote ecoou pelas vastas paredes da Catedral do Santo Nome, em Chicago.
Meu noivo, Marco, estava ao meu lado.
Ele segurava a adaga cerimonial, uma relíquia de família.
Mas seus olhos estavam presos em Isabella Falcone, sentada no último banco.
Exatamente como da última vez.
Ela usava um vestido de seda vermelho-sangue, com um sorriso vitorioso estampado no rosto.
Reconheci o colar de safiras.
A joia principal do último leilão da Sotheby's.
Pelo visto, Marco não poupava esforços para mantê-la feliz.
Ela sabia que Marco a amava.
E eu? Eu era apenas o sacrifício no altar.
As memórias da minha vida passada perfuraram meu coração.
A noite de núpcias. Eu o esperei em minha nova camisola de seda.
A noite inteira. Marco nunca apareceu.
Estava ocupado consolando Isabella, que supostamente havia ficado "abalada" com a cerimônia.
— Ela é apenas uma convidada, Samara. Você é família. E família entende.
Foi essa mentira que ele me deu por vinte anos.
E por vinte anos, lutei contra ele com as únicas armas que tinha: a antiga guarda do meu pai e meu domínio sobre os negócios da família.
Mas ele foi paciente.
Um cupim, corroendo minha fundação, pouco a pouco.
Passou duas décadas me isolando, tirando meu poder, esperando.
Esperou até nosso filho atingir a maioridade — o verdadeiro herdeiro de tudo.
Só então, quando eu já havia cumprido meu papel, tornei-me realmente inútil.
Até o dia em que meu filho ficou diante do meu leito de morte com veneno nas mãos.
— Você é inútil agora, mãe. O papai precisa dos Falcones.
Até Marco se inclinar bem perto, suas últimas palavras torcendo a lâmina dentro de mim:
— Você realmente achou que eu poderia amar uma ferramenta? Sempre foi tão ingênua, Samara.
Minhas unhas se cravaram nas palmas, arrancando sangue.
A dor aguda me puxou do abismo das lembranças.
Isso me forjou.
Agora, aquele homem estava prestes a jogar o mesmo jogo.
Mas desta vez, eu não seria sua peça.
— Marco. — Murmurei, a voz suave.
Ele finalmente desviou o olhar de Isabella.
— O quê? — Impaciente. Como se eu fosse uma estranha insuportável.
— Este pacto de sangue. — Perguntei. — Você o leu com atenção?
Ele franziu a testa.
— Claro que li. Acha que eu cometeria um erro desse tipo?
Meu coração parecia se rasgar em dois.
Mesmo ali, diante de Deus, no altar, sua voz transbordava desprezo por mim.
— Só queria confirmar o nome da noiva. — Disse, mantendo o tom calmo.
Marco lançou um olhar rápido para o pacto e bufou:
— Samara Romano. Quem mais poderia ser?
O desprezo em seus olhos foi a garantia de que eu precisava.
No instante em que ele se virou para o sacerdote para confirmar os detalhes, eu agi.
Minhas mãos tremiam, mas minha determinação era de ferro.
Troquei o pacto sobre o altar por um idêntico, que eu havia escondido na manga.
Este novo tinha uma única alteração.
Uma vez assinado, o pacto se tornava lei de família. Inquebrável.
Marco queria Isabella?
Ótimo. Eu a daria a ele.
Feri meu dedo com a ponta da adaga, deixando o sangue pingar sobre o novo nome.
A dor quase me arrancou lágrimas.
Não pelo corte, mas porque vinte anos de miséria estavam finalmente chegando ao fim.
Uma única gota caiu na página, atingindo em cheio o nome que eu havia escrito: Isabella Falcone.
— O juramento está selado. — Declarou o sacerdote, a voz distante, como vinda de outro mundo.
Marco assentiu, satisfeito, um brilho triunfante nos olhos.
Achava que tinha manipulado todos com perfeição.
Não fazia ideia de que acabara de se acorrentar à mulher que realmente desejava.
E eu? Eu estava, enfim, livre.
Após a cerimônia, os convidados se dispersaram.
Marco foi direto até Isabella, sussurrando em seu ouvido.
Ela riu — um som doce e cruel —, garantindo que todos a vissem ao lado do "herdeiro aparente."
Ninguém notou minha presença no canto.
Exatamente como nos últimos vinte anos.
Voltei para a propriedade dos Romano e fui direto ao meu quarto.
Abri o cofre e retirei os documentos do fundo secreto que minha mãe havia deixado.
Cinquenta milhões de dólares.
Antes de morrer, ela havia segurado minha mão:
— Samara, se algum dia precisar fugir, use esse dinheiro. Faça uma nova vida para si mesma.
Na época, eu não entendi.
Agora, entendia perfeitamente.
Minha mãe também tinha sido um sacrifício. Outro casamento político.
A vida inteira de dor dela me deixara a chave para a liberdade.
Eu estava pegando meu passaporte e meus cartões quando ouvi a voz de Marco do outro lado da pesada porta de carvalho. Ele estava ao telefone. Sua voz era tão terna que quase não o reconheci.
— Não se preocupe, Isabella. O juramento de sangue é apenas uma formalidade.
Minha mão congelou.
— Assim que o pacto for oficial, terei uma razão legítima para me livrar dela.
Meus olhos se arregalaram.
Na minha vida passada, ele fora um coelho. Cauteloso. Temendo o poder que eu detinha.
Desta vez, confundiu meu ódio silencioso com fraqueza.
O tolo. Queria fazer sua jogada cedo demais.
— Tem certeza de que aquela vadiazinha não vai causar problemas? — A risada de Isabella, afiada como vidro, atravessou a porta.
Ouvi então a voz de Marco, carregada de uma afeição que nunca demonstrara por mim:
— Se ela ousar abrir a boca, eu a farei desaparecer. Para sempre.