Yarin falava com um tom preocupado, como se realmente estivesse pensando no meu bem-estar e no do possível bebê. Não era à toa que ela tinha uma ótima habilidade de atuação. Se eu não conhecesse sua verdadeira face, provavelmente teria acreditado em sua falsa preocupação. Mas eu sabia bem: ela só estava preocupada que, se eu tivesse um filho de Lúcio, isso dificultaria seus planos de tomar meu lugar.
Dei um sorriso despreocupado e olhei para ela:
— Por que sinto que você está mais ansiosa do que eu? Está com medo de que eu esteja grávida?
A expressão de Yarin ficou rígida por um momento, mas logo ela se apressou em se explicar:
— Irmã, como pode dizer uma coisa dessas? Só estou preocupada com sua saúde. E se você tiver um filho, quem vai cuidar de vocês dois? Lúcio vive tão ocupado, duvido que ele tenha tempo para isso.
Ela falava de Lúcio com tanta intimidade que parecia conhecê-lo melhor do que eu, a própria esposa.
Mas fazia sentido. Trabalhando juntos na mesma empresa, os dois passavam muito mais tempo juntos do que eu e ele. E, claro, ambos tinham suas intenções.
Pensei comigo mesma:
— Tudo bem. Não importa. Nesta vida, nada disso tem mais importância para mim.
Instintivamente, toquei o colar em meu pescoço e perguntei:
— O que você veio fazer aqui?
— Vim pedir desculpas. — Respondeu Yarin, com uma expressão inocente. — Vi as notícias no trending topics. Lúcio me contou que vocês brigaram por minha causa. Eu me senti péssima e quis esclarecer tudo. Ontem à noite, ele só ficou no bar porque teve que lidar com um cliente difícil para me ajudar. Foi por isso que não conseguiu voltar a tempo para comemorar seu aniversário.
Ao ouvir aquilo, quase comecei a rir. Lúcio realmente já contou tudo para ela. Brigamos na noite passada e, no dia seguinte, Yarin já sabia de tudo.
Não respondi nada, apenas sorri. Notei que, de tempos em tempos, o olhar de Yarin caía sobre o colar Luz Primeira que eu usava. Em seus olhos, havia um desejo evidente, embora ela mesma não parecesse perceber.
Sem hesitar, tirei o colar, segurei sua mão e o coloquei na palma dela:
— Você gosta muito deste colar, não é? Então, ele é seu.
Aquele colar havia sido um presente de Lúcio no nosso noivado. Durante anos, eu o considerei um tesouro. Mas agora, não o queria mais.
Yarin sabia o quanto eu valorizava aquele colar. Quando percebeu que eu o havia tirado, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos sem aviso. Com a voz trêmula, ela tentou se justificar:
— Irmã, não faça isso. Eu e Lúcio realmente não temos nada. Por favor, não me entenda mal. E não me teste com algo tão valioso. Sempre te considerei como uma irmã de verdade. Como eu poderia ter segundas intenções com seu marido? Não confia mais em mim depois de tantos anos de amizade e irmandade?
Embora dissesse isso, os dedos de Yarin apertavam o colar com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. Parecia que ela estava tentando conter alguma emoção intensa.
Sorri levemente e respondi:
— Claro que confio em você. E dar o colar não é nenhum tipo de teste. Não pense demais. Eu simplesmente não gosto mais dele e decidi dar para você. Mas, se você não quiser, tudo bem. Posso dar para outra pessoa.
Enquanto dizia isso, estendi a mão como se fosse pegar o colar de volta.
Yarin, no entanto, reagiu rapidamente. Retirou a mão para trás e disse:
— Não pode ser assim! Uma joia tão valiosa não pode ser dada para qualquer um. É melhor que eu guarde para você. Se um dia você mudar de ideia, posso devolvê-lo.
Olhei para os dedos dela, que seguravam o colar com tanta força, e um sorriso irônico apareceu no canto dos meus lábios.
Aquelas palavras que eu havia dito foram propositalmente para deixá-la desconfortável. Na vida passada, Yarin me acusara de tratá-la como uma mendiga, dizendo que eu jogava minhas coisas indesejadas para ela como se fossem lixo.