Pedro é um agrônomo, solteiro convicto, cresceu em um ambiente tóxico e não acredita em relacionamentos, Nicole é estudante de direito, acredita no amor e em finais felizes, em meios as diferenças eles tentam fazer o amor sobreviver a dificuldades e segredos do passado, se apaixone por esse casal e descubra o que o destino reserva pra quem quer viver um grande amor
Ler maisNaquele momento, quando ele me beijou, eu sabia que meu relacionamento tinha acabado.
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Qual é o meu limite? Até quando arrastar um relacionamento que no fundo, já sabemos que não terá futuro, abrir mão da segurança de alguém que já se conhece chega a me dar tremedeira nos ossos, não estou pronta pra isso, pensei.
Meu relacionamento com Marcos já não era lá essas coisas, apesar de estarmos juntos há um tempo, nunca me senti tão distante, queremos coisas absurdamente diferentes, eu quero o mundo, quero sonhar (ainda que não realize), e ele está feliz onde está, será que isso vai funcionar?
Meus pais são casados há mais de 20 anos, eles não desistiram um do outro, mesmo quando tiveram problemas, é isso que eu quero para mim também, nem todos os dias serão fáceis, mas eu quero um amor que fique, pra vida toda.
Enquanto eu estava perdida em pensamentos, quase perdi a hora de ir pra faculdade, me arrumei com a rapidez de uma tartaruga enquanto aquela coceira não saia de dentro da minha cabeça, mas sinceramente, eu sabia que não faria nada a respeito, talvez estivesse apenas procurando motivos pra não querer mais aquele relacionamento, talvez o problema fosse eu mesma.
Terminei de pentear meu cabelo, estava com nozinhos nas pontas, meu cabelo já era naturalmente em um tom de loiro escuro, e descia liso um pouco pra baixo do peito, já estava passando da hora de cortar, e novamente me perdi no pensamento.
- MEU DEUS! Olha a hora, a Mariana vai me matar – gritei quando vi o relógio, já era quase 8 horas da manhã e a aula ia começar em 15 minutos.
Eu e a Mariana somos melhores amigas desde o começo da faculdade de direito, agora que estamos no último ano, já temos a sobrecarga de ter que decidir o que fazer da vida (como é difícil ser eu – Mia Collucci chora), e além disso ela ainda é obrigada, na sua função de melhor amiga, a me aturar com um namoro desgastado enquanto ela tem um ótimo relacionamento de anos com o namorado dela, será que um dia vai chegar a minha vez de ter um amor assim?
Atravessei o pátio da faculdade correndo, sabia que estava atrasada, passando pelos pilares de cimento vi a Mari de longe, com seu cabelo ruivo nas costas, não tinha como confundir.
- Mari! Não me mata, cheguei – disse ofegante.
- Porra se você me abandonar aqui, eu te busco pelo cabelo – A ameaça dela foi brincadeira, mas ela faria se precisasse.
- Jamais, como você viveria sem a minha companhia? – Rimos e entramos para aula.
Durante a aula, Mari percebeu que eu estava inquieta, olhando para o celular, sem dar muita atenção para aula de direito de família (quem poderia julgar?)
- Está tudo bem? – Ela perguntou, seus olhos cor de avelã mostravam a preocupação, ela me conhecia bem demais para que eu pudesse mentir, ela saberia na hora.
- Na verdade não, mas nenhuma novidade – Respondi.
- É o Marcos, não é? – Ela perguntou, assenti.
- Mal nos falamos essa semana Mari, tô me sentindo uma covarde, já sei que precisamos conversar e não consigo.
- Para com isso, não tem nada de covarde, é uma decisão difícil, esse tipo de coisa sempre envolve bem mais do que o casal, tem amigos, família, eu entendo você pensar bem antes de tomar qualquer decisão, só quero minha amiga de volta, com fogo que eu sei que você tem! – Não havia nada no mundo que a Mari não fizesse por mim, e a recíproca era completamente verdadeira.
Mari era minha amiga desde o começo da faculdade, tinha se tornado minha melhor amiga, minha irmã de alma, daquelas que nem sempre sabemos quando chegam na nossa vida, mas fazem nossa jornada se tornar mais feliz, senti um abraço no coração com as palavras dela, mas também uma tristeza, era nítido assim que eu estava passando por uma fase conturbada? Preciso dar um jeito nisso.
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Durante o intervalo, não entramos mais no assunto, sentamos nos banquinhos de praça que tinham espalhados por toda a faculdade, aproveitamos para tomar um café e pegar a sombra deliciosa da árvore sobre o banco. Conversamos um pouco com nossa amiga Fernanda, ela era de outro curso, mas eu e ela nos conhecíamos desde de crianças, eu apresentei a Mari pra ela quando entramos na faculdade, e acabamos todas ficando amigas, Fer fazia psicologia, o campus dela era longe do nosso na verdade, o que me fez suspeitar que ela não estava ali somente para bater papo.
Ela estava mexendo no seu longo cabelo preto, que ia para baixo do umbigo, estava nervosa.
- O que aconteceu? – Perguntei.
- Não aconteceu nada – ela respondeu, mas seu semblante mudou, era um misto de vontade de rir e medo.
- Bora! Assim você mata o fofoqueiro – falei, elas riram.
- Por favor, não fica brava, mas passei o seu contato pra uma pessoa, e em minha defesa, eu lutei muito pra não passar, mas não tive paz um minuto, o gato é duro na queda – Fernanda falou, esperando minha reação, que no caso, foi ficar muda.
- Que pessoa? – Mari perguntou, me cutucando pra ver se eu saia do transe.
- Pedro – Fer respondeu.
- Que Pedro? – Mari continuou – Meu deus mulher, conta direito.
- O Pedro! Pedro Lima, a Nic conhece – Ela respondeu.
Nesse meio tempo, enquanto elas conversavam, eu estava paralisada tentando puxar na memória, quem diabos era Pedro Lima?
Minha ficha caiu, Pedro Lima, playboyzinho, valia centavos no máximo, era agrônomo, alguns anos mais velho que nós, eu só sabia mesmo que ele trabalhava nas coisas do pai dele, e tinha uma reputação duvidosa com mulheres, solteiro há anos, trombei com ele algumas vezes na nossa cidade natal, em Boituva, mas nunca tive nenhum contato.
- Fer, mas por que você passou meu contato? Você sabe que eu não posso – Disse, começando a achar graça da situação toda.
- Amiga eu juro, ele não me deu paz, ele ficou infernizando até eu passar, e ele sabe que você namora, ele só... não sei, não recuou, por favor, não me odeie, dê um fora você mesma, pelo menos assim ele vai saber que você não quer, e não sou eu que estou empacando. – Quando Fer disse isso, eu me peguei cogitando aquilo, meu Deus, como assim? Eu tenho namorado, não posso pensar nessas coisas, não vou conversar com outro cara, nem de brincadeira.
Era engraçado, já fazia um tempo que eu me sentia meio invisível, eu sei que sou uma mulher bonita, mas não tenho nenhum atributo que chame atenção, meus olhos são grandes e castanhos, com meu 1,60 de altura, estou muito longe de parecer uma modelo, parece que depois de um tempo namorando, esqueci um pouco que outras pessoas ainda podiam me enxergar, nunca achei que poderia ter alguém observando, cobiçando.
- Fica em paz, pode ser que ele nem venha falar nada, deve ser fogo de palha dele, não estou brava amiga, e se, por acaso ele tiver essa audácia toda, vai tomar um toco rapidinho – respondi, rimos de toda aquela situação e fomos voltando para aula, Fer pegou o caminho de volta para o campus dela, e eu e a Mari estávamos voltando para o nosso corredor.
Durante essa caminhada, Mari estava me encarando, com a expressão de quem queria falar alguma coisa, mas estava era com medo de falar e começar a rir.
- O que foi criatura? – Falei para ela.
- O que? Eu não disse nada – Ela respondeu sem conseguir esconder o riso.
- E eu não te conheço? Solta logo.
- Eu acho que você devia falar com ele – Mari disse medindo minha reação.
- Com Pedro?! Tá doida? Primeiro que eu tenho namorado, segundo que ele tem a maior fama de que não vale nada, e terceiro EU TENHO NAMORADO, esqueceu? – Respondi rindo também.
- Calma Nic, não foi bem isso que eu quis dizer... Está bem claro que você precisa se resolver com Marcos, mas talvez não faça mal você só conversar com outra pessoa, não precisa ter uma conotação de segundas intenções, mas amiga, você tá precisando de um up, de um pouco de emoção! Não estou dizendo pra você trair o Marcos, mas às vezes é o que falta, você sentir como seria a vida sem ele, pra tomar coragem, ou ver se realmente quer ficar com ele – Mari realmente acreditava no que estava dizendo, eu por outro lado, estava longe de achar que aquilo de alguma forma resolveria minha vida.
- Você é doida! Se eu tinha alguma dúvida, agora tenho certeza. – Suspirei - Queria eu ter um relacionamento igual ao seu, vocês estão juntos a quanto tempo mesmo? 7 anos? – Perguntei.
- 8 – ela sorriu, mas não foi o sorriso genuíno de sempre, foi só um sorriso, mas ela não entrou no assunto, e com Mari é melhor não forçar, ela geralmente fala quando está pronta pra conversas, assim, eu também não disse nada a respeito, entramos para aula e ficamos até o fim do segundo período.
Naquela tarde, a minha cabeça ficou zunindo, pairando com toda aquela adrenalina da conversa que tive com a Fer e a Mari de manhã.
Agora não era a hora, precisava me concentrar, com o último ano da faculdade, além do estágio, ainda estava preparando minha monografia e também estudando para o exame da ordem, a última coisa que eu precisava nesse momento era de problemas para a minha cabeça.
Muito menos um cara, de reputação duvidosa, e já com o meu relacionamento indo pelo ralo a qualquer momento, ali, eu decidi mandar uma mensagem para o Marcos:
Nicole B.: Quer fazer alguma coisa hoje?
Passaram horas até que eu tivesse uma resposta, mas percebi que não estava ansiosa, na verdade tinha até esquecido da mensagem.
Marcos: Não dá, muito trabalho aqui, final de mês gata, a grana tá curta
Bufei, era sempre a mesma história, e antes que alguém venha me criticar, é claro que eu poderia pagar um drink para o meu namorado, o que me pegava mesmo era a falta de interesse, ele estava sempre com a grana curta – para mim -, estava sempre sem tempo – para mim -, estava sempre sem sinal – para falar comigo -, nossa eu estava mesmo de saco cheio, não respondi a mensagem, continuei fazendo o que precisava fazer, adiantando as pesquisar da minha monografia e de quebra, tentando pensar o mínimo possível naquilo.
Eu só queria me sentir amada, valorizada, será que é pedir muito? Preciso parar de assistir séries melosas do N*****x, isso deve estar fazendo lavagem cerebral em mim, acorda mulher, esse tipo de paixão só acontece em filmes.
Já estava arrumando minhas coisas para sair da biblioteca da faculdade, juntando livros e fechando canetas, olhei pela janela e vi que já estava quase escurecendo, estava na hora de ir pra casa, eu estava com a cabeça cheia, precisava de um banho, um chá e minha cama.
Saindo da faculdade senti meu celular vibrar com uma mensagem, peguei da bolsa para ver, e senti meu coração batendo no ouvido, minhas mãos ficaram frias, a mensagem não era de um número salvo, eu não tinha aquele contato.
Pedro Lima: Estou sabendo que essa mensagem não é mais uma surpresa pra você.
- Meu Deus Dona Luísa - a abraço com força - a senhora é minha heroína, eu jamais teria tanto coragem!Ela sorri para mim com todo carinho.- Ah menina, não é difícil quando se está engasgada a tantos anos - ela dá de ombro - sinto até que emagreci - ela ri- Foi muito esperta mãe, nos tirou desas situação que meu pai causouEla abraça o filho e posso ver quando uma lágrima lhe escapa os olhos, ela realmente é uma mulher extraordinária, pena que seu marido não tenha visto isso.Quando a polícia finalmente chega Pedro explica toda a situação, ele e sua mãe resolvem não prestar queixa contra Antônio, eles tem uma carga na manga, a gravação feita naquela noite, então tinhamos uma grande chance de finalmente Antônio nos deixar em paz, ele não levariam tudo aquilo a polícia desde que ele se mativesse longe e não causasse problemas.Sinto um cansaço extremo me atingir quando a adrenalina finalmente passa, preciso de um banho, da minha cama e dos braços do Pedro ao meu redor, o combo perfeit
Durante toda minha vida, vi minha mãe como uma mulher sem voz, ela aceitava tudo que meu pai fazia calada, sem reclamar, sem revidar, fazia suas vontades, aguentava seus caprichos, sempre colocou sua família em primeiro lugar, se anulando por completo. Ocorre que quando meu pai foi embora de casa, minha mãe recuperou uma força que eu mesmo como seu filho nunca soube que ela tinha, passou a ser uma mulher vigorosa, ela ria, fez amigas, viajava, ela estava vivendo tudo que não pode durante seu casamento, e eu a admirava por isso.Ainda assim, nunca a vi como uma mulher que se envolveria em conflitos, que partiria para briga caso isso fosse necessário, ela ainda mantinha o mesmo semblante tranquilo de sempre, então imagina só meu susto quando em um rompante vejo minha mãe parada no batente da porta, quase soltando fumaça pelos ouvidos, vermelha de raiva e pronta para o ataque.Ali ela estava despejando anos de exclusão, anos de amargura, anos onde não se sentiu respeitada, apreciada e am
Era nítido que Pedro e Antônio estavam a flor da pele, meu medo era que aquilo tomasse proporções que não conseguissemos conter. Discretamente vejo quando Pedro aciona o botão de pânico, tento não olhar demais para que Antônio não repare, mas sinto uma pontada de alívio quando percebo que a ajuda está a caminho.Fico pensando onde estará Dona Luísa, ela não entrou aqui com Pedro o que me faz questionar se ela veio para fazenda junto com ele ou se acabou desistindo, Pedro por outro lado continua falando com o pai, não entendo bem porque ele está dando corda para Antônio, ele poderia simplesmente enxotar o pai daqui e Deus sabe que ele tem tamanho o bastante para fazer isso.Mas algo me diz que ele quer ouvir da boca do pai dele tudo que ele aprontou, talvez seja sua forma de colocar de fato um ponto final nisso.- Sabe pai, tem uma coisa que eu ainda não entendi, confesso que foi esperto da sua parte, mas como foi que teve acesso ao e-mail da Nicole? - Pedro pergunta ainda em pé ao lad
- Eu acho incrível a sua capacidade de atacar só aquelas pessoas que você sabe que não vão revidar pai, assim fica muito fácil não acha? - Entro na sala com sangue nos olhos.Nicole está encolhina na cadeira, tremula, visivelmente com medo, sua sala está destruida, porta retratos quebrados, quadros arrancados da parede, suas coisas todas jogadas no chão, a sala que fiz com tanto carinho para ela, e que ela abraçou como seu lar, cuidou e decorou colocando sua essência em cada detalhe dela, e Antônio, como sempre, deixava um rastro de destruição.- Ora, já era hora de se juntar a nós filhoAndo pela sala com o queixo erguido, não sou eu que tenho que ter vergonha, e com certeza, não sou eu que tenho que ter medo.- Sabe, eu fico curioso, o que pensou que ia conseguir com tudo isso? Todas as armações, todas as confusões, achou que não iriamos descobrir? Achou que não iriamos lutar?- Você devia me agradecer Pedro! Sempre se achou tão bom, tão pronto, sempre achou que tudo que eu fazia nã
Ao chegar na casa de minha mãe, verifico todo o quarteirão, não tem mais carro nenhum parado por ali, quem quer que fosse, foi embora, ela entra no carro mais tranquila por estar acompanhada e por ver que o carro estranho não se encontra mais por ali.- Cade a Nicole filho?- Ficou na fazenda mãe, ela tinha um assunto para resolver, esta nos esperando lá- Mas ela ficou lá sozinha Pedro?! - Ela me olha preocupada- Mãe, tudo bem, já estamos voltando, não vai acontecer nada - Mas Pedro... O carro não está mais aqui, e se quem estava aqui foi pra lá e a menina está lá sozinhaO pensamento me traz uma sensação de náusea, nem me passou pela cabeça que quem estava aqui pode ter ido para lá e eu deixei Nicole lá sozinha, se algo acontecece com ela eu seria o culpado.- Já estamos voltando pra lá mãe, vai ficar tudo bem a senhora vai ver - dou um beijo casto na mão de minha mãe e seguimos pelo caminho.Ela não estava nada confortável em saber que Nicole estava sozinha na fazenda, então fiz
Depois de conferir os documentos e reenviar os e-mails, sinto um alívio imeditado, agora sim estava tudo certo e sem problemas a serem resolvidos, vejo o relógio e logo Pedro estará de volta, a essa altura se ele ainda não chegou na casa de sua mãe, está quase. Aproveito o intervalo para ir até o banheiro, me alivio, lavo as mãos e jogo uma água no rosto, mirando meu reflexo no espelho.Vejo algumas olheiras e um semblante cansado, mas agora tudo estava se alinhando novamente, tudo voltaria ao normal e seguiriamos nossa vida sem a sombra de Antônio.Estou fazendo o caminho de volta até minha sala quando escuto um barulho vir de dentro dela, imediatamente penso ser Pedro então continuo o caminho até lá, grande erro, paro na porta sentindo uma sensação estranha, quase como se meu corpo avisasse que tinha alguma coisa errada ali, bato a mão nos bolsos, mas só confirmo que deixei meu celular dentro da sala, merda.Ouço novamente um barulho vindo de dentro da minha sala, mas dessa vez, não
Último capítulo