Aquelas palavras me deram vontade de rir:
— Se Yarin realmente tivesse uma crise de apendicite, como ela conseguiu ir tão rápido para um bar beber?
Mas, independentemente de quão ridículas fossem as desculpas, desde que saíssem da boca de Yarin, Lúcio acreditava.
Na vida passada, só porque Yarin disse que eu a deixei tão irritada que ela sentiu dores no peito e dificuldade para respirar, Lúcio me trancou em casa, colocou pessoas para me vigiar 24 horas por dia e até me proibiu de participar da festa de aniversário do meu pai.
Ao lembrar de tudo o que aconteceu na vida passada, senti meus dentes rangerem de ódio. O amor que eu tinha por ele já havia sido completamente desgastado pela sua indiferença e crueldade.
Mas eu sabia que, naquele momento, ainda não era páreo para Lúcio. Seus métodos eram implacáveis. Além disso, ainda havia o meu irmão idiota para complicar tudo.
Cerrei os punhos e decidi que, nessa vida, eu só queria ficar o mais longe possível de Lúcio, proteger meus pais e a mim mesma. Mesmo assim, não consegui conter a raiva e respondi com sarcasmo:
— Você não tem ninguém ao seu redor? Precisa mesmo ir pessoalmente levá-la?
Olhei para ele com frieza e, com um sorriso irônico, perguntei:
— Da última vez, os paparazzi te flagraram carregando ela nos braços. Agora, você brigou por ela. Na próxima, vão te pegar na cama com ela?
— Daisy Chaves! — Lúcio gritou meu nome, irritado, enquanto esfregava as têmporas com frustração. — Eu não quero brigar com você. Não foi você quem pediu para eu cuidar de Yarin? Agora está desconfiada e inventando coisas. O que você quer de mim? Mesmo que não confie em mim, deveria confiar na irmã que cresceu com você!
Ao ouvir isso, não consegui evitar um sorriso frio. Na vida passada, foi exatamente por confiar demais em Yarin que minha vida se tornou tão miserável.
Yarin estudava design de interiores, o que se alinhava perfeitamente com o ramo imobiliário do Grupo Braga.
No início, quando eu ainda não sabia da verdadeira natureza dela, pensava apenas no bem-estar da minha irmã adotiva, que tinha uma saúde frágil.
Queria dar a ela uma oportunidade para brilhar em sua carreira, então usei minha influência para colocá-la como designer no Grupo Braga. Mal sabia eu que isso só aumentaria o ódio dela por mim. Ela achava que eu havia feito isso de propósito para impedir que ela fosse trabalhar no Grupo Chaves e competisse comigo pelos bens da família.
Na verdade, Yarin já me odiava há muito tempo. Ela acreditava que, apesar de termos o mesmo sobrenome, eu tinha 10% das ações do Grupo Chaves, enquanto ela não tinha nada.
Yarin também invejava o fato de eu ter um noivo tão excelente como Lúcio. Ela sentia que, ao estar ao meu lado, vivendo como minha irmã, na verdade era como se fosse minha empregada, obedecendo às minhas ordens. Isso a enchia de amargura.
Esses pensamentos distorcidos de Yarin só ficaram claros para mim na vida passada, quando nós duas ficamos presas em um incêndio. Foi então que ela me revelou tudo isso pessoalmente.
Naquele momento, ao ouvir suas acusações, só consegui achar tudo muito absurdo. Não podia acreditar que a irmã adotiva que esteve ao meu lado por tantos anos tinha esses pensamentos tão distorcidos.
Yarin nunca considerou que nenhuma empregada teria os privilégios que ela teve. Ela vivia comigo, comia e morava nas mesmas condições que eu, participava de eventos luxuosos e conhecia a alta sociedade.
Durante todos esses anos, sempre a tratei como uma irmã de verdade. As decisões sobre as ações e a administração da empresa eram tomadas pelos meus pais, e eu não tinha poder para interferir. Mesmo assim, tudo o que era bom, eu dava a ela. Mas, para Yarin, tudo isso parecia ser apenas caridade da minha parte.
Entre mim e ela, a frase que melhor descrevia nossa relação era:
"Quem tem bom coração nunca é recompensado."
Aquele incêndio foi causado por Yarin. Ela me convidou para beber em sua nova casa. Depois que fiquei bêbada e adormeci, ela aproveitou a oportunidade para colocar fogo no lugar. Mas ela mesma não tentou escapar.
Acordei sufocada pela fumaça e, ao abrir os olhos, vi Yarin parada ali perto, sorrindo como se fosse um demônio saído do inferno.
Ela começou a me acusar de todos os "pecados" que, segundo ela, eu havia cometido ao longo dos anos. Achei tudo aquilo ridículo, mas minha prioridade era escapar. Quando tentei sair, descobri que ela havia trancado a porta.
Yarin me puxou de volta, segurando meu pescoço com força, enquanto sorria de forma sádica:
— Já enviei mensagens para Lúcio e Theo. Um é seu marido, o outro é seu irmão. Quem você acha que eles vão salvar primeiro?
Chamei-a de louca e tentei me soltar, mas não conseguia escapar de suas mãos.