Amélia Alves
10 anos antes
Hoje é meu aniversário de oito anos. Estou muito feliz. A mamãe comprou um bolo todo rosa, e ele é lindo! Ela também me deu um ursinho de pelúcia rosa. Todas as minhas roupas são rosa — eu adoro essa cor, é a minha preferida.
Cantamos parabéns e comemos o bolo. Só eu e minha mãe. Meu pai morreu antes de eu nascer, foi o que minha mãe me contou. Mas eu não me importo em não ter pai, porque a mamãe faz tudo por mim: me leva para a escola, para passear e, sempre que pode, me leva para comer pizza. Eu adoro minha mãe. Ela é tudo para mim.
Hoje está sendo um dia muito feliz. Primeiro passeamos e, depois, quando chegamos em casa, cortamos o bolo e cantamos parabéns. Estou tão feliz, correndo pela casa, quando de repente escuto um barulho na porta. Minha mãe olha pela janela e fica em choque. Então, ela se ajoelha na minha frente e diz:
— Amélia, quero que você se esconda. Tem uns homens maus lá fora. Promete que não vai sair e não vai deixar que eles te vejam? Promete, por favor!
Ela fala baixo, na minha altura, com as duas mãos nos meus ombros. Meus olhos se enchem de lágrimas e um medo terrível me invade. Mamãe me entrega o ursinho e pede para que eu me esconda dentro do guarda-roupa. Fico entre as cobertas. Eu era pequena, então era difícil alguém me ver ali.
De repente, um barulho horrível na porta. Um homem com cara de mau entra gritando com uma arma na mão. Ele fala um idioma que eu não entendo. Se aproxima da minha mãe e começa a bater nela. Coloco as mãos na boca para não gritar, enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Ele faz perguntas e sacode minha mãe, gritando. Não entendo o que ele diz. Só ouço a voz da minha mãe pedindo para ele parar. Mas o homem avança, rasga as roupas dela. Minha mãe grita, ele b**e mais nela... e eu não sei mais o que está fazendo, porque os gritos aumentam. Quero sair correndo, mas o que eu poderia fazer? Sou só uma criança pequena e frágil.
Seguro o choro, tentando não fazer nenhum barulho. Ele continua batendo e batendo. Vejo sangue no chão. Depois, ele puxa a arma e atira.
Naquele momento, tudo dentro de mim queria gritar, mas obedeci minha mãe e fiquei em silêncio. O homem olha ao redor da casa e se aproxima do guarda-roupa. Puxa as cobertas. Eu prendo a respiração. Ele abre a porta, mas não me vê, e vai embora.
Fico ali, tremendo, chorando baixinho, sem coragem de me mexer. Até que ouço um alvoroço. Pessoas gritando. Choro. E então vejo minha tia, desesperada. Ela abre o guarda-roupa e me encontra entre as cobertas, em estado de choque. Me pega no colo enquanto homens de uniforme retiram o corpo da minha mãe.
É nesse momento que começo a chorar desesperadamente e gritar por ela. Mas minha mãe não se mexe. Eles me levam para o hospital. Fico dormindo por muito tempo. Eu já sei o que aconteceu: minha mãe está morta. E tudo o que eu queria era morrer com ela.
Minha tia me levou ao cemitério para me despedir da minha mãe. Ela estava deitada num caixão, rodeada de flores. Parecia que estava dormindo. Embora seu rosto estivesse machucado, quase não dava para perceber.
Caminhei devagar até ela. Olhei bem e então comecei a gritar:
— Mãe, acorda! Por favor, não me deixa! Não vai embora, eu preciso de você!
Tentei segurar o caixão, embora nem tivesse força para mover nada. Meus gritos ecoavam longe, enquanto minha tia me abraçava e me afastava da minha mãezinha.
— Eu quero a minha mãe! Eu quero a minha mãe! — gritava sem parar.
Mas ela não veio. Continuava dormindo.
Então minha tia disse, com frieza:
— Amélia, sua mãe está morta. Você vai ter que aprender a viver sem ela.
Essas palavras rasgaram meu coração. Comecei a chorar tanto que achei que nunca mais fosse parar. O cemitério estava quase vazio. As poucas pessoas presentes sussurravam e me olhavam de um jeito estranho. Na época, eu não entendia por que, mas era como se odiassem minha mãe... e a mim também.
Meu coração doía. Minhas lágrimas secaram. Já não conseguia mais chorar.
Voltei para a nossa pequena casa, enquanto minha tia arrumava minhas roupas. Peguei o ursinho que minha mãe me deu e o abracei com força. Talvez fosse minha última lembrança dela. Vi minha tia com duas malas grandes — roupas minhas e algumas coisas da mamãe. Um homem estranho apareceu e colocou tudo no carro.
— Vem logo, menina. Agora você vai morar na minha casa — disse minha tia, com um tom seco.
Segui-a até o carro, onde um homem mal-encarado nos esperava.
— Tem certeza que vai cuidar dessa menina? Não é melhor mandar para um orfanato? — ele perguntou.
Minha tia sorriu de um jeito estranho e respondeu:
— Ela é minha sobrinha. Quem sabe, mais pra frente, possa nos dar um bom dinheiro.
Eu não entendi o que ela quis dizer. Eu não tinha dinheiro. Minha mãe também não. Onde eu arrumaria dinheiro para dar a ela?
— Vem logo, garota — minha tia disse, me puxando pelo braço para dentro do carro.
O homem estranho ligou o carro e dirigiu para um lugar desconhecido.
Era ali que começaria o meu pesadelo.