A ordem de Gabriel no rádio foi uma agulha de gelo na espinha de Lara. “Situação vermelha. Saíam de suas posições, com calma.”

Calma. A palavra parecia uma piada de mau gosto. Do seu posto de observação no café, ela via a figura de Gabriel se afastando com passos firmes e deliberados pela passarela, deixando seu pai para trás como uma estátua de confusão e medo recém-descoberto. O instinto de Lara gritava para que ela corresse, para que se escondesse. Mas a voz de Gabriel em seu treinamento a mantinha no lugar. “O pânico é um farol. A normalidade é sua camuflagem.”

Com as mãos que ela se forçou a manter firmes, Lara chamou o garçom, pediu a conta e pagou com uma nota de cinquenta, dizendo para ele ficar com o troco. Um gesto normal, de uma cliente normal. Levantou-se devagar, pegou sua bolsa e caminhou para a saída, sem olhar para trás, sem olhar para a ponte onde a vida de seu pai acabara de ser virada de cabeça para baixo. Cada passo era uma mentira. Ela se misturou à multidão na ca