MERLYA
O quarto escuro se tornou meu universo. Cinco meses. Lá fora, eu estava morta, vítima da crueldade de Natália. Aqui dentro, a única coisa que me mantinha viva era a disciplina, o ódio e a promessa de ressurreição.
As contusões do dia em que César forjou minha morte haviam desaparecido, mas a dor, tanto física quanto emocional, havia se transformado em energia pura. Eu sabia que Alex e Lua sofriam um luto genuíno, e essa dor me obrigava a sobreviver. Eu havia perdido o movimento uma vez; não perderia a liberdade agora.
Eu dedicava minhas horas ao estudo. César vinha três vezes ao dia para trazer comida e garantir que eu não estivesse morta. Eu cronometrava cada passo dele, cada ranger de porta, cada minuto que ele passava no telefone. Eu sabia que ele era o elo mais fraco de Natália, e que a rotina dele era minha primeira arma.
Mentalmente, eu reconstruía a fisioterapia de Alex. Usava as técnicas que ele me ensinara para manter a musculatura das pernas, dobrando-as e esticando-a