Antes do silêncio, havia dor. Havia desejo. Havia ele. Maeve Jhosef não esperava sobreviver àquela noite — muito menos sentir algo por quem menos deveria. Marcada por um passado que insiste em sangrar, ela se vê presa entre lembranças que queimam e olhos que a despem, revelando segredos que jamais deveriam ser descobertos. Ele é o irmão do amor da sua vida. E o toque dele carrega tudo o que ela jurou evitar: tentação, perigo... e consolo. Mas algumas verdades dormem fundo — e quando despertam, cobram seu preço. Porque amar alguém antes que a verdade venha à tona pode ser o erro mais doce... e mais fatal.
Ler maisCapítulo – Zola Riel O apartamento estava mergulhado em um silêncio quase teatral. Nenhum som além do tique-taque do relógio na parede e da garfada ocasional contra o fundo vazio do prato. Meu jantar — uma tentativa falha de macarrão instantâneo — repousava esquecido à minha frente, enquanto eu, sem fome e sem ânimo, encarava a tela do celular. Dedos hesitantes. Coração inquieto. Abri a conversa com Maeve. Minhas mensagens com ela sempre tinham aquele tom de alívio, como quem encontra um porto seguro depois de dias em mar aberto. **Zola:** *Você vai estar em casa amanhã no almoço?* A resposta veio segundos depois, como sempre. **Maeve:** *Claro. Vem. Estou com saudade da sua cara de sarcasmo disfarçado de tédio.* **Zola:** *Levo sobremesa.* **Maeve:** *Você leu meus pensamentos.* Suspirei, aliviada por ter um destino mais ameno no dia seguinte. Apaguei a luz da cozinha e fui me enfiar debaixo das cobertas, mas o sono não veio. Os olhos de Nevan insistiam em reaparece
Capítulo – Zola Riel A rotina frenética do hospital sempre teve algo de anestésico. Nos sons monótonos dos monitores cardíacos, no eco dos passos apressados, nos plantões intermináveis, havia uma constância que me impedia de sentir demais — de lembrar demais. Ou, pelo menos, costumava ser assim. Mas desde que Nevan voltou, desde que nossos caminhos se cruzaram de novo naquela festa com cheiro de cloro e lembranças, o hospital já não era mais um santuário de distrações. Tornou-se uma arena silenciosa onde cada gesto, cada troca de olhares, carregava um peso que só nós sabíamos decifrar. Eu o via nos corredores, com aquele andar tranquilo e postura impecável, falando com os colegas, revisando prontuários, coordenando as alas com uma naturalidade irritante. Mas por mais profissional que parecesse, havia sempre um momento — às vezes breve demais — em que ele olhava em minha direção. Como se ainda soubesse exatamente onde eu estava, mesmo sem
Capítulo – Zola Riel — Você anda sumida — a voz da Maeve me alcançou antes mesmo que eu pudesse bater na porta da casa dela. — Eu? Você que tem um filho, um marido, um trabalho, uma vida… — rebati com um sorriso, mesmo sabendo que minha tentativa de parecer casual soava mais defensiva do que irônica. Ela riu e me puxou pela mão para dentro, como fazia desde que éramos adolescentes. A casa estava com aquele cheiro de sol e bolo recém-assado. Noan Ezra devia estar por ali, porque os brinquedos espalhados no tapete da sala entregavam a presença viva da criança. Era impossível estar ali e não sentir aquele calor de lar. Um contraste tão gritante com os corredores frios do hospital que eu quase comentei — mas preferi engolir o pensamento. — Senta — ela disse, apontando para o sofá. — Fiz café. Fala. Como você tá? — Cansada. Confusa. E com ressaca emocional desde o último plantão. Maeve me olhou por cima da xícara com um daqueles olhares que ela só reservava quando sabia que eu
Capítulo Bônus – Zola RielFaz um mês desde aquela noite no bar. Um mês desde que o tempo decidiu me pregar uma peça e trouxe Nevan de volta para a minha vida.E agora ele está aqui. Todos os dias.Andando pelos corredores do hospital com aquele mesmo andar tranquilo que sempre teve, como se nada fosse capaz de apressá-lo. Ele cumprimenta as enfermeiras com um sorriso discreto, conversa com os médicos mais velhos com um respeito que é raro de ver, e me olha... me olha de um jeito que ainda estou tentando decifrar.Ele é o novo gestor do hospital. Uma coincidência absurda ou apenas mais uma daquelas peças que o universo adora brincar de montar. Eu, que jurava estar imune a qualquer resquício de adolescência emocional, me vejo fugindo para salas de descanso vazias só para recuperar o fôlego depois de um encontro casual com ele no elevador.A verdade é que ver Nevan aqui, tão próximo, tão constante, é como ter um espinho cravado entre as costelas. Um incômodo silencioso. Familiar. Dolori
Capítulo Bônus – Zola RielEle se sentou. E por um momento, não dissemos nada.O silêncio entre mim e Nevan não era desconfortável. Era... carregado. Como se o ar entre nós ainda estivesse tentando entender o que éramos agora. Eu estudei o rosto dele por alguns segundos — a barba rala, os traços mais maduros, os olhos marcados por noites em claro que só adultos de verdade carregam.Mas então ele sorriu. Aquele mesmo sorriso torto de quando aprontávamos no ensino médio e nos escondíamos atrás do laboratório de ciências para fumar cigarros que roubávamos dos tios. E eu não pude evitar. Sorri de volta.— Faz tempo que não vejo esse sorriso — ele disse, com a voz mais rouca do que eu lembrava. — O de verdade. Não o que você dá pros outros achando que ninguém percebe a diferença.— Você continua metido — retruquei, pegando meu copo. — Mas… está certo. Faz tempo mesmo.— Desde Ezra — ele completou, e dessa vez foi minha vez de desviar os olhos.A menção ao nome dele ainda era um fio sensíve
Capítulo Bônus – Zola Riel*Entre o que resta e o que ainda pode ser*Amar alguém é como segurar cacos de vidro. Você tenta com todo o cuidado... mas uma hora ou outra, sangra.Vejo isso nos olhos da Maeve quando ela fala dele. **Isaac.** A maldição e o milagre da vida dela.Nunca imaginei que estaria aqui — anos depois — observando minha melhor amiga construir uma vida ao lado de quem ela mais odiou. De quem jurou nunca perdoar. De quem ela dizia carregar o mesmo sangue que a fez sofrer.Mas o tempo é traiçoeiro. E, às vezes, generoso.Eles se casaram. Têm um filho agora — Noam Ezra — um menino com o mesmo brilho doce nos olhos que o tio. Às vezes, quando ele corre pela casa com aqueles cabelos desalinhados e o sorriso escancarado, eu quase vejo o Ezra ali. E isso me desmonta.A relação entre Maeve e Isaac é feita de rachaduras que, por algum milagre, sustentam um lar. Um amor lapidado na dor, na culpa e na reconstrução. Ainda me custa vê-los juntos sem lembrar de tudo o que os troux
Último capítulo