Alejandro Albeniz Quando saímos do tribunal, o calor sufocante do início da tarde parecia não me atingir. Meu corpo todo vibrava de uma energia diferente — não era apenas o alívio da absolvição, era algo mais, algo que vinha da mulher ao meu lado, segurando minha mão com tanta força quanto eu segurava a dela.Paramos no estacionamento e eu olhei em volta, meio perdido.— Vim de carona com o Sepúlveda... — murmurei, coçando a nuca.Antes que eu pudesse pensar em qualquer solução, ela balançou as chaves diante dos meus olhos, sorrindo com timidez.— Vim com o carro que você me deu.O impacto dessas palavras me atingiu como um soco no estômago. Um soco bom, cheio de esperança.Ela não precisava dizer mais nada. Estava ali. De verdade. Comigo.Sem conter o impulso, segurei seu rosto entre as mãos e murmurei, quase em reverência:— Você veio no carro que eu te dei… Ela sorriu. Aquele sorriso. O sorriso que eu achava que nunca mais veria.— Sim. E dessa vez, estou aqui de corpo e alma. —
Alejandro Albeniz Estar com ela de volta era como poder respirar depois de muito tempo sufocado. Eu sei, estava parecendo um maricas pensando de um jeito tão brega e clichê. Mas diziam por aí que o amor enbobecia a todos, então por mais que eu achasse isso uma idiotice, acreditaria nisso.Deixamos o quarto arrumado por cima, jogamos nossas coisas no carro — o carro que eu tinha dado para ela, e que agora parecia marcar o início de uma nova história — e seguimos para a casa dela.O caminho foi tranquilo, coloquei uma música para tocar, a fim de acompanhar esse nosso novo momento, nosso recomeço. E estávamos muito felizes, sorrindo, eu, como sempre, fazendo minhas piadinhas que arrancavam gargalhadas dela. E como eu amava aquele sorriso, aquela risada gostosa. Mas em determinado momento, quando nos aproximávamos de sua casa, um silêncio pairou no ar, como uma certa tensão. Não era desconforto; acredito que assim como eu, ela também estava sentindo o peso de tudo o que ainda precisávamo
Ximena ValverdeDesde o momento em que Alejandro me convidou para o jantar na casa do pai dele, uma parte de mim já sabia que aquela não seria uma noite agradável.Eu hesitei. Deus sabe que eu hesitei.Mas ao ver a esperança nos olhos dele — aquela esperança boba e sincera que ele sempre demonstrava quando se tratava de recomeçar — não consegui dizer não. Segundo Alejandro, o senhor Albeniz queria se reaproximar. Tinha pedido desculpas e queria me conhecer oficialmente como sua nora. No pai dele, Alejandro confiava.Em quem ele não confiava era na Mercês.Mas honestamente, eu tinha lá minhas dúvidas sobre os dois. Porém, segundo ele, ela fazia parte do pacote e eu tinha que suportar. Ainda que ele tenha dito isso em meio a um sorriso amargo.E lá estava eu, vestida de forma impecável — um vestido verde-escuro com alças grossas, um decote em formato de coração e a parte da saia meio rodada, com algumas pinças. Nos pés, um par de scarpin pretos e os cabelos soltos devidamente penteados,
Ximena ValverdeEu sabia que Alejandro queria que fôssemos juntos até o Can Roca, mas preferi ir com meus pais. Não queria tirar o impacto da surpresa. Eu tinha me arrumado especialmente para ele — e queria ver a reação em seus olhos. Cada detalhe da minha aparência tinha sido pensado com carinho: o vestido longo, de tecido leve que acompanhava meus movimentos como uma segunda pele, o penteado com ondas soltas que emolduravam meu rosto, a maquiagem sutil, mas impecável, realçando meus olhos castanhos-escuros. Eu queria que, ao me ver, ele sentisse que todo o esforço, toda a dor que deixamos para trás, haviam valido a pena.Desde o nosso último grande conflito e da perda do Lito, que ainda doía como uma ferida aberta, tínhamos encontrado uma estabilidade preciosa. Cada pequeno gesto, cada olhar cúmplice, cada amanhecer juntos construía algo que eu sentia, com cada batida do meu coração, que seria eterno desta vez.Claro que nem tudo foi paz no caminho até aqui. Mercês tentou se introme
Ximena ValverdeEu sabia que Alejandro queria que fôssemos juntos até o Can Roca, mas preferi ir com meus pais. Não queria tirar o impacto da surpresa. Eu tinha me arrumado especialmente para ele — e queria ver a reação em seus olhos. Cada detalhe da minha aparência tinha sido pensado com carinho: o vestido longo, de tecido leve que acompanhava meus movimentos como uma segunda pele, o penteado com ondas soltas que emolduravam meu rosto, a maquiagem sutil, mas impecável, realçando meus olhos castanhos-escuros. Eu queria que, ao me ver, ele sentisse que todo o esforço, toda a dor que deixamos para trás, haviam valido a pena.Desde o nosso último grande conflito e da perda do Lito, que ainda doía como uma ferida aberta, tínhamos encontrado uma estabilidade preciosa. Cada pequeno gesto, cada olhar cúmplice, cada amanhecer juntos construía algo que eu sentia, com cada batida do meu coração, que seria eterno desta vez.Claro que nem tudo foi paz no caminho até aqui. Mercês tentou se introme
Ximena Valverde A família de Alejandro começou a chegar. Se via todos, menos o senhor Albeniz. Catalina, deslumbrante em um vestido verde-esmeralda, ao lado de um homem que eu nunca tinha visto antes. Mas também não a conhecia, então não tinha como saber o meio em que ela andava. Era um cara loiro de olhos azuis, com cara de modelo de comercial de perfume. Ela veio até Alejandro, trocou dois beijos no rosto e para mim, ela arqueou a sobrancelha como cumprimento. Eu gostava que ela não forçava a barra, o que mostrava que Catalina não era como sua tia.Beto passou direto, típico de um sociopata, veio curtir a festa do irmão, mas nada mais importava, só o seu prazer em estar ali.Já Mercês, essa como sempre, um poço de falsidade, me olhou como se tivesse visto alguém especial e me abraçou como se me quisesse bem. Ela tentou com Alejandro, mas ele não facilitou para ela, assim que Mercês se virou para ele, Alejandro Ignorou e foi na direção de Catalina.— E meu pai? — Alejandro perguntou
Alejandro Albeniz Eu perdi minha mãe com oito anos e certamente esse foi o momento mais doloroso da minha vida. Ela era doce, amorosa, companheira, a melhor mãe que uma criança poderia ter. Quando ela se foi, ficou apenas o meu pai, duro, seco, autoritário e por conta do trabalho, bastante ausente. No entanto, mesmo com todos esses problemas, sabia que ele me amava e sentia orgulho de mim, mesmo nunca dizendo. E eu também, apesar de tudo, o amava.Beto sempre foi estranho, uma pessoa à parte. Nunca o considerei como alguém de fato da minha família, mesmo nós dois compartilhando o mesmo sangue. Com meu pai morto era como se a era Albeniz, a qual eu nasci, tivesse acabado e o único que sobrou fui eu.Me sentia solitário como nunca. Sem ninguém da família a quem eu pudesse recorrer.Estava sentado num batente no jardim do resort, tentando assimilar tudo o que aconteceu, meu pai infartou porque descobriu algo que não conseguiu me contar. Eu sabia que era esse o motivo. Mas a pergunta que
Alejandro AlbenizFrustração.Era estranho como esse sentimento podia se tornar quase um estado de existência. Desde a morte do meu pai, ele se instalou em mim como um visitante indesejado que se recusava a ir embora. O que mais me atormentava não era apenas a dor da perda, mas a consciência tardia de algo que eu deveria ter percebido antes: aquilo não foi natural. Aquilo foi um crime.Quando pedi ao gerente do Can Roca que fechasse os portões do resort e não deixasse ninguém sair, metade dos convidados já havia ido embora. Muita gente importante, muitos desconhecidos também, e principalmente, o Pavel. Sim, ele. Sumiu, evaporou como fumaça.A taça de vinho que meu pai segurava... desaparecida. Sumiu como se nunca tivesse existido. Era tudo muito suspeito. Tudo me levava a pensar que foi algo planejado, e muito bem planejado. A polícia, ao menos, agiu com rapidez. Recolheu os HDs com as gravações das câmeras espalhadas pelo resort. Talvez ali houvesse alguma resposta.Conversei com o