O Primeiro Dia na Averly

O sol ainda mal tinha nascido quando eu já estava desperta, sentada à beira da cama com o uniforme cuidadosamente dobrado ao meu lado. O nervosismo pulsava em cada batida do meu coração. Olhei para o relógio: 5h47. Dormir fora impossível nessa noite — a ansiedade de finalmente entrar na Averly, o colégio dos sonhos, falava mais alto do que o meu cansaço.

Minha mãe apareceu na porta, com o cabelo preso e o cheiro de café recém-passado.

— Pronta para o grande dia? — perguntou com um sorriso fraterno.

— Pronta... eu acho — respondi, tentando disfarçar a minha voz trêmula.

O uniforme da Averly era diferente de tudo o que eu já tinha usado: blazer cinza com o brasão bordado, saia azul-marinho e uma gravata delicada. Típico daqueles que vemos em séries e filmes de High School. Ao me olhar no espelho, senti algo misto de orgulho e medo. Orgulho por estar ali, por ter conquistado aquilo com esforço; medo por saber que, naquele universo, quase ninguém tinha precisado lutar tanto quanto eu.

Meu pai me esperava na cozinha, já pronto para o trabalho. Nesse primeiro dia, ele fez questão de me levar no nosso Corsa prata, ano 2000. Um carro que, ao chegar à porta do colégio, já entregaria minha realidade.

— Vai arrasar, minha menina. Só lembra quem você é, não tenta ser igual a ninguém — disse ele, enquanto terminava sua xícara de café.

Assenti, engolindo o nó na garganta. Sabia que cada passo dali em diante representava o sacrifício da minha família inteira.

O trajeto até a escola parecia mais longo do que realmente era. A Averly surgia no horizonte como um castelo moderno — portões imponentes, jardins impecáveis, carros importados desfilando na entrada. Meu pai estava impressionado com tamanha grandiosidade.

Ele me olhou, tentando me manter calma, mas seus olhos entregavam sua preocupação.

— Isa, vou te deixar aqui, estou atrasado — disse ele.

Concordei e desci do carro. Meu pai me deixou a uma quadra da escola; imagino que não estava realmente atrasado, mas não quis me deixar na porta, talvez para me poupar do constrangimento.

No pátio, grupos de alunos conversavam animadamente. Todos pareciam se conhecer há anos. Riam alto, exibindo mochilas de grife e celulares de última geração. Respirei fundo, ajeitei a gravata e entrei.

A coordenadora, uma mulher elegante chamada Ms. Vivian, me recebeu com um sorriso ensaiado.

— Seja bem-vinda à Averly, Isabela. Seu nome está em destaque na lista de bolsistas, parabéns. — O tom era cordial, mas havia algo condescendente em sua voz.

Apenas agradeci, com um leve sorriso, sentindo o peso da palavra “bolsista” ecoar em minha mente.

Ela me apresentou as dependências da escola — cada espaço, cada sala, cada metro quadrado parecia ter saído de um filme. Até que chegamos à sala de aula. Escolhi um lugar na terceira fileira, próximo à janela. Enquanto observava o pátio lá fora, ouvi uma voz suave ao meu lado.

— Você é nova, né?

Virei, e diante de mim estava uma garota de cabelos castanhos perfeitos e sorriso espontâneo.

— Sou. É meu primeiro dia — respondi, tímida.

— Eu sou a Lara Montenegro. E relaxa, os primeiros dias aqui são sempre estranhos. — Ela piscou, cúmplice, e isso me ajudou a me sentir um pouco mais à vontade.

A aula começou, e tentei me concentrar, mas tudo ao redor chamava atenção — os laptops, os relógios caros, os alunos anotando em tablets. O ambiente exalava privilégio. Eu fazia minhas anotações em um caderno comum, e, embora me sentisse pequena diante de tanta grandiosidade, havia dentro de mim uma chama silenciosa: a de que eu merecia estar ali.

No intervalo, o pátio parecia um desfile. Grupos se formavam naturalmente — filhos de empresários, influenciadores, jovens herdeiros. Lara me apresentou a alguns colegas, e eu tentei não demonstrar desconforto, embora fosse evidente. Foi então que um movimento diferente prendeu minha atenção.

Um carro preto, luxuoso, estacionou em frente ao prédio principal. Dele saiu um rapaz alto, com postura confiante e olhar sereno. As conversas cessaram por um instante — todos pareciam saber quem era.

— Esse é o Arthur Vilela — sussurrou Lara — a família dele é dona da maior empresa de tecnologia da América Latina. Ele estudava fora e voltou esse ano.

Ouvi, mas não disse nada. Apenas observei. Arthur caminhava com naturalidade, cumprimentando alguns professores, como se estivesse acostumado a ser o centro das atenções. Mas, em certo momento, seus olhos cruzaram com os meus. Um olhar breve, curioso, sem arrogância, de um azul que parecia o céu — e por algum motivo, meu coração acelerou.

No fim do dia, meu pai não conseguiu me buscar. Caminhei algumas quadras até o ponto de ônibus mais próximo, e, a cada passo que eu dava, o colégio ficava para trás. A fachada dourada da Averly refletia o pôr do sol como um lembrete silencioso: aquele era apenas o começo.

Dentro de mim, uma mistura de medo e esperança. O medo de não me encaixar, de ser lembrada apenas como “a bolsista”. E a esperança — talvez ingênua — de que, com esforço, eu poderia transformar aquele mundo de um jeito diferente.

Quando cheguei em casa, encontrei minha mãe na cozinha, preparando o jantar.

— E aí, como foi? — perguntou, ansiosa.

Suspirei, sentando-me à mesa.

— Diferente de tudo o que eu imaginava. É... outro universo, mãe.

— Mas você é capaz, filha. O que tem lá dentro não é maior do que o que você carrega aqui — disse ela, apontando para o meu peito com um sorriso.

Sorri de volta, mas em silêncio pensei: Será que realmente é o suficiente?

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