A batalha havia terminado. O grande salão estava coberto de escombros, o cheiro de sangue e magia pairando no ar como uma lembrança amarga do que havia ocorrido.Os corpos dos demônios jaziam em poças negras, dissolvendo-se lentamente em sombras etéreas, enquanto os lobos sobreviventes se reuniam ao redor, arfando e se recompondo.Mesmo que o Príncipe do Escuro tivesse fugido no último instante, seu corpo estava severamente ferido, as chamas sagradas e os golpes da alcateia haviam deixado cicatrizes profundas demais para uma retomada imediata.Ele havia escapado, mas não teria forças para revidar tão cedo. A batalha havia cobrado seu preço, e agora, o inimigo lamberia suas feridas nas sombras.No centro do caos, Eyla despertava para sua nova realidade.Ela piscou algumas vezes, os olhos antes humanos agora brilhando em um tom violeta e intenso. O mundo ao seu redor pulsava em uma nova sintonia, cada som, cada cheiro e cada batida do coração de Adrian parecendo fazer parte de um ritmo
Mas nem tudo era alegria. A vitória custara caro. A alcateia Sombra Azul agora chorava seus mortos. Os corpos dos guerreiros lobos foram colocados em círculo no centro do salão, envoltos em peles sagradas, enquanto os lobos em luto uivavam em respeito. Adrian, com o rosto marcado pela dor, subiu ao altar do salão para se dirigir à sua família. Seu peito arfava, não mais de exaustão, mas de tristeza.— Perdemos irmãos, amigos, companheiros. Cada vida que se foi hoje... será lembrada, honrada e eternizada em nossas memórias e nos cânticos da nossa história. Lamento por cada um. Sinto cada ausência como uma ferida em meu coração. Às famílias... — sua voz falhou por um momento — minha eterna gratidão. Eles foram corajosos. Foram luz diante da escuridão.Valesa se aproximou, vestida com seu manto cerimonial branco. O silêncio foi respeitoso enquanto ela começava os ritos sagrados. As palavras entoadas em antiga língua ecoaram pelo salão, suaves e solenes, carregadas de uma força ancestral.
A noite estava carregada de eletricidade. A lua cheia pendia no céu como uma sentinela silenciosa, observando o destino que estava prestes a ser selado. O ar estava denso com algo primitivo, algo antigo.Nos aposentos de Adrian, apenas a respiração dos dois preenchia o silêncio. Sete dias de luto haviam permeado a alcateia desde a guerra contra os demônios, e agora, aquele momento de conexão parecia trazer um fio de luz após a escuridão.Eyla sentia cada célula de seu corpo vibrar. Desde sua transformação, o mundo nunca mais foi o mesmo. Sete dias de luto haviam envolvido a alcateia desde a guerra com os demônios, e nesse tempo, Eyla corria pela floresta em forma de loba, tentando encontrar sentido, tentando entender a força nova que pulsava dentro dela.Sentia-se parte da alcateia, sentia a força correndo por suas veias, mas o que mais a assombrava era a conexão com Adrian. Ele era seu Alfa. Ele era seu tudo.Adrian se aproximou lentamente, os olhos verdes brilhando como brasas. O ol
A luz fria do teto vibrava levemente, zumbindo como um lembrete incômodo de que a vida de Eyla estava presa a repetições. Mais um dia, mais uma reunião onde rostos vazios disfarçavam ambição e falsidade por trás de sorrisos plásticos. Sentada na ponta da mesa de vidro, ela observava os colegas — cada um envolto por uma névoa energética densa, cinza, sufocante.Seu dom, uma maldição silenciosa, a impedia de se desligar. Enquanto os outros balbuciavam sobre metas e estratégias, ela via o que ninguém mais via: inveja, frustração, desejo de poder. Tudo embrulhado em ternos caros e discursos reciclados. Eyla cruzou os braços e afundou na cadeira, disfarçando o desdém com uma expressão neutra. Mas por dentro, ela gritava.A sensação de estar fora do lugar, de ser uma peça errada em um quebra-cabeça burocrático, era constante. No corredor, a copa fervilhava de vozes agudas. Fofocas voavam como mosquitos em noite abafada. A secretária do chefe quase se desmanchava em desespero, tentando d
Adrian era uma presença que não passava despercebida. Alto, imponente, com olhos de um verde cortante que pareciam atravessar pele, carne e mentira. Ele era o alfa da Alcateia Sombra Azul — um nome que carregava respeito, medo e reverência no submundo sobrenatural. Sob sua liderança, os lobos prosperaram. Estratégico, impiedoso quando necessário, Adrian mantinha sua alcateia no topo com pulso firme, inteligência afiada e instintos que nunca o traíam. A política no mundo sobrenatural era tão brutal quanto as batalhas físicas. Adrian sabia jogar esse jogo como ninguém. Naquela noite, ele estava ali por obrigação. Um evento humano, repleto de taças reluzentes, risadas fingidas e perfumes fortes demais. Mas alianças precisavam ser feitas. A expansão territorial exigia diplomacia — mesmo com aqueles que não tinham a menor noção do que rastejava sob a superfície do véu dos mundos. Adrian mantinha-se à margem do salão, apoiado casualmente contra uma coluna, como uma sombra elegante. Os o
Eyla estava no banheiro, encarando o próprio reflexo como se esperasse uma resposta. A maquiagem perfeita escondia bem as olheiras, mas não mascarava o vazio nos olhos. O batom vermelho que ela acabara de retocar parecia uma armadura — um lembrete de que, apesar de tudo, ela ainda podia fingir.Ela suspirou, afundando os ombros. Como havia deixado as coisas chegarem até aqui? Aquele jantar, aquela festa, aquele homem… tudo parecia um teatro em que ela era a única que sabia que o roteiro era uma mentira. “Noiva”, ele dissera. Com aquela voz cheia de posse, como se estivesse selando um contrato em público, sem ao menos consultá-la.— Ele só pode estar louco… — murmurou para si mesma, franzindo o cenho.Quando saiu do banheiro, o ambiente parecia ainda mais sufocante. As luzes do salão eram fortes demais, as risadas altas demais, as taças tilintando pareciam uma provocação. E então ela o viu. Justin. Vindo em sua direção como uma tempestade, o maxilar travado, os olhos faiscando de raiva
A fúria de Adrian era como um trovão silencioso, ressoando dentro dele. Seu lobo rosnava, inquieto, exigindo ação. Aquela mulher… ela não era nada para ele, e ainda assim, o cheiro de medo misturado à indignação que emanava dela atiçava seus instintos mais primitivos.Justin segurava o pulso dela com força, e Adrian não precisava de mais nada para agir.Com um olhar, deu um comando mental para Tor. Seu Beta entendeu imediatamente. Movendo-se com precisão, ele esbarrou propositalmente em um garçom, derrubando algumas taças. O vidro estilhaçou no chão, e a confusão momentânea atraiu olhares e comentários.No instante seguinte, Adrian avançou.Seus passos eram controlados, predatórios. Ele não precisava erguer a voz para impor respeito. Sua presença já bastava. O ar parecia ficar mais pesado quando ele se colocou ao lado dos dois, os olhos verde-intensos brilhando sob as luzes suaves do salão.Justin ainda não havia percebido sua aproximação.— Cara, você não percebe que estamos no meio
O coração de Eyla martelava em seu peito enquanto seus passos se aceleravam pelo asfalto frio da noite. O som de sapatos ecoando atrás dela confirmava o que já sabia: não era sua imaginação. Alguém a seguia.O ar fresco da noite parecia insuficiente para acalmá-la. Ela apertou a bolsa contra o corpo, o olhar fixo na calçada à sua frente. Virar-se e encarar quem quer que fosse parecia uma péssima ideia. Em vez disso, tentou aumentar o ritmo, forçando suas pernas a se moverem mais rápido.Mas os passos atrás dela também aceleraram.A adrenalina percorreu suas veias. Seu dom lhe dizia que a energia daquela presença não era comum. Era intensa, imponente, quase... selvagem.Eyla virou a esquina abruptamente, entrando em um beco iluminado apenas por uma única lâmpada pública piscando. Uma decisão irracional, talvez, mas precisava de um segundo para pensar. Encostou-se contra a parede de tijolos, prendendo a respiração.Silêncio.Por um instante, acreditou que tivesse despistado seu persegui