O dia amanheceu com um céu limpo, quase tímido, como se tivesse medo de interferir demais na nova fase que Júlia estava vivendo. Ela acordou com o corpo ainda preguiçoso, mas com a mente estranhamente desperta. Não havia aquele aperto antigo no peito, nem a sensação de estar sempre correndo atrás de algo que escapava.
Daniel ainda dormia.
Ela ficou alguns minutos observando-o, reparando em detalhes que antes passariam despercebidos: a respiração tranquila, o jeito como a mão dele repousava aberta sobre o lençol, como se mesmo dormindo estivesse disponível para o mundo. Júlia sorriu. Não era paixão urgente. Era reconhecimento.
Levantou-se devagar e foi até a janela. A cidade começava a acordar, carros passando, pessoas indo trabalhar, vidas seguindo. Pela primeira vez, aquilo não a assustava. Ela não se sentia atrasada nem fora do ritmo. Estava exatamente onde precisava estar.
Minutos depois, Daniel apareceu na porta do quarto, os cabelos bagunçados, a camiseta amarrotada.
— Você fugiu