O dia começou sem pressa, como se o tempo tivesse aprendido a respeitar o ritmo deles. Júlia acordou com o som distante de chuva fina batendo na janela. Não era tempestade. Era aquela chuva mansa que não assusta, apenas envolve.
Daniel ainda dormia, virado de lado, o braço estendido na direção dela mesmo sem tocá-la, como se o corpo soubesse onde ela estava. Júlia ficou alguns minutos observando aquela cena simples, sentindo algo que nunca tivera antes: segurança sem vigilância.
Ela se levantou devagar e foi até a cozinha. Preparou café com cuidado, quase como um ritual. Cada gesto tinha peso agora, não por obrigação, mas por escolha. Estava criando uma vida nova sem precisar apagar a antiga.
Quando Daniel apareceu, encostado no batente da porta, ela percebeu o olhar dele pousado sobre si com calma, sem expectativa, sem cobrança.
— Você fica bonita assim — ele disse. — Quando não está tentando ser nada além de você.
Júlia sorriu.
— Acho que passei tempo demais tentando caber nos outro