O dia amanheceu tranquilo demais para ser inocente.
Júlia percebeu isso enquanto observava Daniel sair para resolver pendências com a advogada. Havia algo no ar, uma espécie de pausa estranha, como o silêncio que antecede uma tempestade. Mesmo assim, ela respirou fundo e decidiu não recuar. Não iria viver esperando o pior.
Sozinha na casa, abriu uma caixa antiga que Daniel guardava no armário do escritório. Não era curiosidade invasiva, era intuição. Fotografias antigas, algumas cartas, recortes de jornal. Fragmentos de uma vida que, de alguma forma, sempre a cercou.
Quando tocou uma foto específica, o mundo pareceu inclinar.
Ela estava mais jovem.
Caio ao seu lado.
Helena um pouco atrás, com aquele mesmo sorriso que agora sabia reconhecer como falso.
A lembrança veio inteira dessa vez.
Ela se viu sentada em um banco de praça, esperando. O celular na mão. Mensagens não respondidas. Depois, a voz de Caio, apressada, distante:
“A Helena não está bem. Eu preciso ir.”
Sempre isso.
Sempre