Júlia não dormiu depois que Daniel saiu do quarto naquela noite. Não por medo, mas por clareza. Pela primeira vez desde o acidente, sua mente não estava vazia nem confusa. Estava firme. Como se algo dentro dela tivesse finalmente encontrado um eixo.
Ao amanhecer, pediu para ver Helena.
A enfermeira hesitou, tentou sugerir esperar pelos pais, pelo médico, por Daniel. Júlia recusou com um simples movimento de cabeça. Não era pressa. Era decisão.
— Agora — disse. E a palavra não deixou espaço para negociação.
Helena entrou minutos depois, vestida de calma ensaiada, o mesmo olhar doce que sempre usava quando queria parecer inofensiva. Mas parou assim que percebeu que Júlia não estava frágil. Estava sentada, ereta, o olhar limpo e direto.
— Você queria falar comigo? — Helena perguntou, com um sorriso suave demais.
— Queria — Júlia respondeu. — E vou ser clara.
Helena sentou-se devagar, cruzando as pernas.
— Eu só estou preocupada com você. Sempre estive.
Júlia respirou fundo. Não para se a