Tudo é escuridão. Mas não aquela escuridão total, é uma daquelas que pulsa. Que vibra como um tambor surdo atrás dos olhos. Tem gosto metálico na boca, tem peso no peito. E tem dor.
Um zumbido cresce devagar nos meus ouvidos, como se eu estivesse debaixo d'água. Tento me mexer, mas meu corpo não responde. Sinto o chão frio sob as costas — ou talvez seja a cama? Não sei. Só sei que tem algo errado. O mundo gira mesmo de olhos fechados. Tento respirar fundo, mas o ar entra raso. Curto. Trêmulo.
Então, vem a lembrança. Um flash.
A mão dela no braço dele. O sorriso cínico. O beijo.
O beijo.
O gosto de bile me sobe à garganta. Eu vi. Eu senti. Como se tivesse levado um tapa no meio do peito. E ele me viu. Me viu ali, de cima. Viu o que eu vi. Viu o que fez. E mesmo assim… não correu.
A raiva e o desespero se misturam até se tornarem uma coisa só: vazio.
O frio do chão vira calor de mãos. Mãos que me tocam. Que me puxam. Que tentam me acordar. Mas não quero abrir os olhos. Não quero ver aq