Já se passaram dois dias. Dois dias sem ouvir a voz dela, sem ver o rosto, sem sentir nem o peso do olhar atravessando o corredor. Dois dias com aquela porta fechada, como uma sentença. Como um muro que eu mesmo levantei.
Estou na sala, sentado na beirada do sofá, com os cotovelos nos joelhos e as pernas balançando num ritmo nervoso que me denuncia. As paredes parecem mais estreitas, o ar mais denso. Cada estalo da casa, cada passo no andar de cima, me faz levantar o rosto na esperança de que seja ela.
Mas não é.
Nunca é.
— Vai acabar cavando um buraco no chão se continuar com essa perna, Samuel — diz minha mãe, surgindo na sala com uma caneca nas mãos. A voz dela é baixa, firme, e mesmo sem levantar os olhos, sei que está me observando.
— Ela não saiu nem pra comer. Nem água, mãe. Nem um gole. — Minha voz é arrastada, um fiapo de tudo que ainda estou tentando segurar. — Isso não está certo.
— Ela tem comida lá dentro. Eu deixei uma bandeja do lado da porta ontem à noite. Hoje de manh