Chego em casa quando o sol já se despede do dia, tingindo o céu com aquele laranja amargo que só me lembra uma coisa: eu tô ficando sem tempo.
O cheiro de comida vem da cozinha, misturado ao som baixo da televisão ligada na sala. Ouço a voz do Rigel dando risada com algum desenho, e o tilintar de pratos confirma que Jade já está preparando a mesa. Respiro fundo antes de entrar. Não quero transformar esse jantar em uma tempestade... mas talvez seja inevitável.
— Cheguei — digo, tirando as botas e largando as chaves no aparador.
— Está quase pronto — Dona Helena responde da cozinha, sem me olhar. A voz dela está calma. Boa demais pra esse dia de merda.
— Posso ajudar?
Ela me olha por cima do ombro, uma colher de pau na mão.
— Você não sabe nem onde guardo as panelas.
— Mas sei lavar — tento brincar, arrancando um sorriso pequeno dela.
A gente janta em silêncio. Rigel fala, Jade sorri, e eu fico ali, tentando encontrar o momento certo. Quando o pequeno se levanta e vai pra sala, com a