A chuva deslizava pela vidraça como se Nova Iorque estivesse chorando por dentro. Não de tristeza… mas de exaustão.
A cidade parecia exalar um suspiro longo, como quem, enfim, baixou as armas.
Clara encostou a testa no vidro por alguns segundos. Os olhos vagos, o peito cheio.
Respirar já era uma vitória.
Estar em pé, ali, viva, em segurança… era quase um milagre.
O banheiro ainda exalava vapor do banho quente que Léo tinha preparado pra ela.
Ela saiu enrolada numa toalha, e ao ver o moletom dele pendurado na maçaneta, não pensou duas vezes.
Vestiu.
Grande demais.
Confortável demais.
Com o cheiro dele.
Pela primeira vez em dias, sentiu o corpo relaxar.
Não estava mais sob efeito de droga alguma.
Mas ainda flutuava entre lembranças nebulosas e emoções cruas.
Quando desceu, Léo estava no sofá.
Camisa aberta, copo na mão — não era whisky, era chá.
Mas o olhar…
Era puro torpor.
Ele olhou pra ela como quem olha uma lembrança que se recusa a virar passado.
— “Você tá me olhando como se fosse