Início / Romance / Ainda há tempo de amar / Capítulo 2 - Atalia - parte 1
Capítulo 2 - Atalia - parte 1

Eu estou cansada. Minhas pernas vacilam e bambeiam como se buscassem forças para continuar. Não sei se terei energia para prosseguir por mais tempo.

Também, não sei para onde ir.

Não tenho ninguém para quem pedir ajuda. Mas, imagino que se eu chegar a alguma cidade, haverá algum trabalho. Talvez em uma fazenda. Eu sou boa com os animais e sei limpar qualquer coisa, desde uma casa a uma estrebaria.

Não sei como é no mundo aqui fora. Mas, Janaína me disse que ela sempre trabalhou. Talvez os demônios do mundo externo a Igreja da Aurora me deixassem em paz e eu poderia me suster. Essa esperança surgiu enquanto eu vagava pela floresta durante a madrugada e nenhum deles me atacou.

Estava assustada durante todo o trajeto. Orei ao Deus dos céus que me protegesse, mas não sabia se ele ouviria a voz de alguém que traiu e recusou seu profeta. Ainda assim eu tentei. Uma parte de mim tinha esperança de que ele pudesse me perdoar.

Quando o sol apareceu, eu cheguei à estrada. O asfalto era quente, o que trazia algum conforto ao meu corpo gelado. Durante algum momento meus chinelos rasgaram, e não tive escolha, precisei andar descalça. Agora, sentia meus pés em carne viva.

Monstros de rodas cruzaram por mim. Não carros normais, como aqueles que eu via na Igreja da Aurora, mas enormes veículos com várias rodas, que traziam carrocerias pesadas na sua traseira. Eles ventavam quando passavam, sua força quase me derrubando.

Estava com medo, mas os salmos me mantiveram de pé.

Era perto das nove quando avistei um tipo de mercado na beira do asfalto. Estranhamente, o cheiro perfumado de pães me fez roncar o estômago, e eu me aproximei dele. Havia um tipo de cartaz diante dele, e eu me sentei em um banco abaixo. Não sabia o preço para conseguir um pedaço de pão, talvez fosse minha alma, então preferi simplesmente abrir minha sacola e pegar o pão velho que trazia comigo.

Antes, porém, de levá-lo a boca, vi um pequeno anjo se aproximando.

Era um daqueles querubins que coloriam os livros que tinham na Igreja de Aurora.

Ela sorriu e eu sorri em retribuição.

— Tá com fome? — ela me perguntou, sua dicção esforçando-se para pronunciar as palavras.

Ok. Não era um querubim. Era uma criança como aquelas que eu cuidava na comunidade.

— Estou.

Ela me estendeu um pedaço de bolo preto, com um tipo de cobertura por cima. Eu o aceitei, porque sabia que o gesto era inocente e doce.

Quando o levei a boca, pensei que o mundo inteiro estava derretido entre meus lábios.

— Que delícia — murmurei.

— Chocolate — ela apontou. — Adoro chocolate!

Eu também adorava chocolate. Mas, aquele que eu comia, feito com manteiga, açúcar e o resto do achocolatado dos filhos do profeta em nada se assemelhava a essa maravilhosa doçura.

— Algo tão gostoso assim só pode ser pecado — eu apontei, e ela pareceu confusa.

— Ei!

O som enérgico quase me fez derrubar o pedaço de bolo. Eu me coloquei em pé. Diante de mim apareceu um homem alto, forte e de olhar curioso. Meu coração disparou, porque eu não era acostumada a ver outros homens além dos membros da Igreja, e porque ele também pareceu bonito demais, diferente do que eu era acostumada.

Ontem, quando acordei, imaginei que teria outro dia típico.

Em vinte e quatro horas, minha vida mudou completamente.

— Eu sinto muito — murmurei. — Eu não roubei o bolo dela — disse, estendendo a ele o pedaço de bolo.

Eu sentia o peso do olhar dele. O homem estava me medindo. Eu baixei meus olhos para a garotinha de cachos dourado escuro, adorável com suas bochechas rosadas. Ela parece toda tranquila, como se a frase do homem não mudasse absolutamente nada.

Mas, mudou. Estou com medo de ter provocado uma reação em cadeia que pode me levar a perdição.

— Está tudo bem — ele disse. — Você é da comunidade nas montanhas?

Concordo. Até onde posso falar?

— Está perdida? Precisa de ajuda para voltar?

Eu nego energicamente, lágrimas se formando em meus olhos. Não quero que ele saiba o quanto estou desesperada, mas vejo nele um tipo de compreensão que mal posso alçar.

É como se aquele homem de cabelos escuros e curtos, vestindo um terno ajustado, pudesse entender exatamente o que era o medo.

— Está com fome? — ele indaga.

Não posso negar. Minha barriga dói.

— Venha. Vou te pagar um café da manhã — ele diz.

Então ele começa a rumar para o estabelecimento. Não sei se é certo segui-lo, mas eu vou com ele porque minha vida já está desgraçada de qualquer maneira.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App