Quando chegou, desceu rapidamente encarando a fachada, o pessoal do estúdio vinham muito aqui, mas desde a mudança, Jéssica não tinha vontade de sair em lugares como esse. Estava focada em apoiar Ana e reconstruir sua própria vida de forma pacífica.
Jéssica entrou na balada, o coração batendo mais forte com uma mistura de apreensão e irritação. A música pulsava, a luz estroboscópica cortava a escuridão, e o ar estava denso com o cheiro de suor, perfume e bebida. Abriu caminho pela multidão até o que parecia ser o epicentro do som, onde avistou Janice, que, ao vê-la, abriu um sorriso largo e culpado. _ Jéssica! Você veio! ... urpresa! Janice gritou, mal sendo ouvida acima da batida. Jéssica franziu a testa, confusa. _ Surpresa? Janice, o que você...? De repente, um coro de vozes se ergueu: _ SURPRESA! A luz se acendeu por um breve momento, revelando rostos familiares. Toda a sua equipe estava lá, sorrindo, erguendo copos. Balões flutuavam, e uma faixa tosca, mas bem-humorada, dizia: "PARABÉNS, EQUIPE ESTÚDIO ÁUREA! O SOFTWARE É NOSSO!". A irritação inicial de Jéssica deu lugar a um riso incrédulo. Elas a tinham enganado! Mas, ao ver a alegria genuína de seus colegas e o orgulho em seus olhos, a raiva se dissipou, substituída por um calor no peito. Era uma festa para celebrar o trabalho árduo e o sucesso do projeto. Era o que eles precisavam. _ Vocês me pegaram!, ela disse, rindo e abraçando Janice. _ Eu juro que pensei que você estava em apuros! Janice apenas piscou, um sorriso travesso no rosto. _ Missão cumprida! Agora, vamos celebrar! Jéssica se deixou levar pela energia contagiante. Um drink gelado foi parar em sua mão, e logo ela estava no meio da pista de dança, o corpo se movendo no ritmo da música. Dançou com sua equipe, celebrando a vitória, rindo das piadas internas e sentindo a camaradagem. Ela se permitiu relaxar. Os flertes surgiram naturalmente, olhares curiosos de desconhecidos e sorrisos de convite. Ela retribuía alguns, a faísca de um olhar despreocupado, sem compromisso uma distração bem-vinda. Por um tempo, a imagem de Leo e a frustração do seu erro pareciam distantes, sufocadas pelo volume da música e a euforia da noite. A bebida ajudou a afrouxar as inibições, e ela se viu rindo mais alto, seus movimentos na dança se tornando mais ousados e sensuais. Naquele momento, sob as luzes piscantes e a batida pulsante, Jéssica estava determinada a aproveitar, a sentir a liberdade de uma noite sem amarras, longe das sombras de uma paixão que ela ainda não sabia como lidar. Leon Hawksmoor, para o mundo dos negócios, era sinônimo de poder e frieza estratégica. Diretor Geral da recém-expandida Hawksmor Solutions (HS), ele acabava de sair de um jantar exaustivo com um investidor crucial. Sorrisos forçados, elogios exagerados e a sensação pegajosa de estar sendo constantemente avaliado o deixavam irritado e exausto. A última coisa que Leon desejava era prolongar aquela noite. O investidor em questão, Sr. Ricardo Velasquez, um homem corpulento com um riso alto e insistente, não parecia compartilhar do seu cansaço. _ Hawksmoor, meu jovem!, exclamou Velasquez, batendo nas costas de Leon com uma força quase dolorosa. _ Precisamos celebrar este acordo! Que tal irmos a um lugar... dançar? Ver algumas belas damas? Leon engoliu a contrariedade. Seu irmão mais velho, Patrick Hawksmoor, o CEO pragmático da HS, havia sido claro: manter Velasquez feliz era prioritário. O investimento dele era vital para os planos de expansão da empresa. _ Claro, Sr. Velasquez, Leon respondeu, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos azuis penetrantes. _ Uma ótima ideia. Para evitar qualquer encontro indesejado com conhecidos e preservar a imagem da HS, Patrick havia sugerido uma balada discreta na cidade vizinha próxima a Flecheiras, de parceiros que garantiriam a descrição. Ao chegarem ao local, o som abafado da música e a aglomeração de pessoas já eram suficientes para aumentar a irritação de Leon. Ele preferia a tranquilidade de seu apartamento, ou, melhor ainda, a lembrança fugaz do calor e da entrega nos braços de Jéssica. Uma lembrança que ele tentava, sem sucesso, enterrar. Enquanto Velasquez era rapidamente engolido pela multidão em busca de companhia, Leon observava o movimento do bar, pedindo uma bebida forte. Foi então que a viu. No meio da pista de dança, envolta por luzes coloridas e movendo-se com uma liberdade selvagem e despreocupada, estava Jéssica. O impacto foi como um soco no estômago. Vê-la ali, dançando com um sorriso radiante nos lábios, cercada por outras pessoas, mas aparentemente alheia a tudo, despertou em Leon uma torrente de emoções conflitantes. Uma possessividade feroz o invadiu. Ela era dele. A imagem da noite apaixonada que compartilharam, a forma como ela se entregou em seus braços, contrastava brutalmente com essa visão de liberdade despreocupada. O ciúme o mordeu com força. Quem eram aqueles homens que a cercavam? Para quem ela sorria daquela maneira? A lembrança de ser praticamente expulso de seu quarto, a frieza repentina que se seguiu àquele calor intenso, retornaram com uma intensidade dolorosa. Ele a havia desejado tanto, e por um breve momento, acreditou no sentimento mútuo. Vê-la agora, tão solta e feliz sem ele, era como uma afronta pessoal. Uma raiva fria começou a borbulhar dentro de Leon. Ele não havia sido claro sobre o que sentia, mesmo assim... Ela havia correspondido, e depois... o corte abrupto. Vê-la ali, vivaz e alheia à sua existência, acendia uma chama de ressentimento. Ainda que soubesse que estava sendo injusto, ele não conseguia aceitar. A necessidade de se aproximar, de reivindicá-la de alguma forma, tornou-se quase física.