No coração de Flecheiras, uma pequena e doce cidade litorânea, o sol é quente, onde o som das ondas embalavam o dia, Jéssica Morten, uma morena de pele clara e olhos castanhos expressivos, ela escolheu se estabelecer ali para estar próxima de Ana. As duas são amigas desde a infância e no momento é sua única família. Ana está refazendo sua vida após o canalha do marido escolher o seu primeiro amor. Mas Ana está indo bem, Rafael é um bom homem, ele realmente a escolheu, logo esses dois vão assumir um namoro, não há dúvidas.
Jéssica tem trabalhado dobrado, pois além do habitual trabalho está implantando o Estúdio Áurea, sua preciosidade, fruto de seu esforço, que agora lhe dava frutos valiosos. Estava se tornando nacionalmente conhecido, proporcionando uma independência financeira inimaginável nos anos da faculdade. Hoje finalizava uma reunião intensa. O grande projeto de sua empresa — a estruturação de um software inovador — estava a um passo de ser concluído. Na próxima semana, a versão final seria apresentada aos investidores, e a pressão era palpável. Enquanto a equipe dispersava, deixando o estúdio banhado pela luz dourada do fim da tarde, uma memória invadiu a mente de Jéssica, inesperada e avassaladora: Leo Goren. Lábios roçando os seus, o calor de uma noite recente que os unira em paixão. "Não!", ela se repreendeu em voz baixa, sentindo o rosto esquentar. "Foi um erro." Ela tentou afastar a lembrança, mas era inútil. Os olhos azuis dele, ardendo de prazer, a perseguiam. Jéssica apertou as têmporas, buscando focar. _ Não é hora para isso!, ela se repreendeu novamente, com um tom mais firme. Com um suspiro profundo, ela forçou a mente a retornar aos diagramas complexos e às linhas de código. O trabalho a esperava, e não havia espaço para distrações. O último clique no teclado ecoou pelo estúdio silencioso. Jéssica espreguiçou-se, sentindo os músculos tensionados relaxarem gradualmente. A luz suave do final da tarde invadia as grandes janelas, tingindo o espaço com tons alaranjados e rosados. Pegou sua bolsa, trancou a porta e iniciou a caminhada para casa. O ar fresco da brisa marítima de Flecheiras carregava o som distante das ondas, uma melodia constante e reconfortante. Ao chegar em casa, Jéssica sentiu o cansaço se esvair lentamente. Tomou uma taça de vinho. Preparou um banho quente, a água fumegante perfumada com óleos essenciais de lavanda e ylang-ylang. Mergulhou na banheira, o calor envolvendo seu corpo como um abraço. A tensão nos ombros e na nuca se dissipou, dando lugar a uma agradável sensação de relaxamento. Seus olhos fecharam, e ela se permitiu flutuar, a mente esvaziando-se das preocupações do trabalho. Mas o calor da água, aliado à quietude do momento, trouxe à tona memórias adormecidas. A imagem dos olhos azuis de Leo, a intensidade do seu toque, o sussurro de palavras apaixonadas naquela noite... tudo voltou com uma clareza surpreendente. Um arrepio percorreu sua espinha, e seu corpo reagiu, a lembrança despertando sensações há pouco reprimidas. Seus dedos deslizaram pela pele molhada, a respiração tornando-se mais rápida e superficial. O toque hesitante transformou-se em um anseio crescente, a atmosfera sensual da banheira intensificando o desejo. Jéssica fechou os olhos com força, entregando-se momentaneamente àquela onda de lembranças e sensações... O toque estridente do celular cortou o silêncio e o torpor. Com um sobressalto, Jéssica abriu os olhos, o coração ainda acelerado. _ Mais que... droga! Ofegou. A tela brilhava com o nome de Ana, sua melhor amiga. Um misto de alívio e frustração tomou conta dela enquanto alcançava o aparelho, interrompendo aquele momento íntimo e carregado de emoção. Depois da ligação de Ana, que a trouxe de volta à realidade do seu apartamento, Jéssica suspirou. Levantou-se da banheira, a pele ainda quente e formigando, e foi para a cozinha. Preparou um jantar simples e rápido, a mente já se preparando para uma noite que prometia ser longa e, acima de tudo, solitária. Mal havia terminado de comer quando o celular tocou novamente. Desta vez, era Janice, sua assistente. Jéssica atendeu, tentando decifrar as palavras que vinham do outro lado. Um barulho de música alta e vozes empolgadas dificultava a comunicação. Era claramente uma balada. _ Ja...Janice? Onde você está? Não consigo te ouvir direito! A voz de Janice estava distorcida pelo som ambiente. _ Jéssica! Preciso de ajuda... aqui... é um desastre! Jéssica tentou entender, mas a confusão na voz da assistente e o volume da música eram obstáculos intransponíveis. _ Ei, Janice, fala mais devagar! Fala... O que aconteceu? Onde... Onde você está? A resposta veio em um misto de gaguejos e sons indistintos. Jéssica tentou por mais um minuto, a paciência diminuindo. Janice então, desistiu e desligou. Quase que imediatamente, uma mensagem de texto chegou. Era um endereço e uma frase curta de Janice: "Preciso de ajuda. Agora." O alerta vermelho acendeu na mente de Jéssica. Algo sério devia ter acontecido para Janice, que raramente perdia a compostura, soar tão desesperada. Não podia esperar, precisava ir. Em questão de minutos, ela trocou o roupão por uma calça jeans e uma camiseta, pediu um carro e saiu. Não era muito perto, mas a essa hora, a estrada devia estar livre. O endereço indicava uma balada, localizada quase na cidade vizinha. A ansiedade aumentando a cada quilômetro, deixando o coração de Jéssica acelerado. A noite, que prometia solidão, estava prestes a tomar um rumo inesperado e potencialmente problemático. As luzes passavam rápido e logo ela estaria no endereço.