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Capítulo 4 - O Vazio e a Solidão do Rei

O silêncio. Um silêncio ensurdecedor preencheu o castelo após a partida de Helena. Não era o silêncio sereno das noites tranquilas, mas um vazio gélido que se instalou em cada corredor, em cada aposento, e, mais cruelmente, em meu próprio peito. Dois anos haviam se passado desde que a doença a levara, e a dor ainda era uma ferida aberta, pulsando a cada batida do meu coração. A luz que ela trouxe à minha existência secular havia se apagado, e eu me vi novamente envolto em uma escuridão que parecia ainda mais densa do que antes.

Eu a segurei em meus braços até o último suspiro, sentindo o calor de seu corpo diminuir, o desespero em nosso laço. Seus olhos castanhos, antes tão vibrantes, agora opacos, cheios de lágrimas, implorando para que eu a deixasse ir. Eu queria que ela vivesse, que visse nossa ana crescer, que florescesse ao meu lado. Eu queria viver ao lado dela, minha Rainha, meu amor. Mas a escuridão a engoliu, e com ela, uma parte de mim.

O castelo, antes preenchido com sua luz, tornou-se um mausoléu de memórias. Cada canto, cada sombra, me lembrava dela. O jardim onde ela gostava de passear, o salão onde dançamos pela primeira vez, o quarto onde compartilhamos nossa intimidade mais profunda. Tudo era um lembrete constante do que eu havia perdido.

E então, havia Ana. Minha enteada. Ela tinha apenas cinco anos quando Helena se foi. Uma criança pequena, com olhos castanhos curiosos e cabelos cor de chocolate, que agora me olhava com uma confusão e tristeza que eu não sabia como consolar. Eu a amava, com uma intensidade feroz que me assustava. Ela era a última parte de Helena que me restava, a prova viva do amor que compartilhamos. Mas a dor era tão avassaladora que eu mal conseguia respirar, muito menos ser o padrasto que ela precisava.

Eu a via. Eu a observava de longe, enquanto ela brincava nos jardins, ou corria pelos corredores, seus pequenos passos ecoando no vazio do castelo. Ela era uma criança vibrante, cheia de vida, mas a sombra do luto pairava sobre ela também. Eu a via sentar-se sozinha, seus olhos fixos em um ponto distante, como se procurasse por algo que havia perdido. Meu coração se apertava, mas eu me sentia impotente.

Minha mente estava nublada pela dor. Eu me afundei nos deveres do reino, uma forma de escapar da realidade, de anestesiar a dor que me consumia. Reuniões com os Alfas, patrulhas nas fronteiras, estratégias para manter a paz em um reino que parecia desmoronar sob o peso da minha própria tristeza. Eu trabalhava incansavelmente, do amanhecer ao anoitecer, e muitas vezes, pela madrugada, buscando no cansaço físico um refúgio para a tormenta em minha alma.

Eu a via com Lia, a filha do Alfa da Alcateia da Floresta. Lia era uma boa amiga para Ana, uma presença constante que preenchia parte do vazio que eu, em minha dor, não conseguia preencher. Eu sentia gratidão por Lia, por ser a companhia que minha enteada precisava, por trazer um pouco de luz à sua infância que, eu sabia, estava sendo marcada pela solidão.

Os anos se arrastaram, lentos e pesados. Ana crescia, e eu a via de longe, uma figura em desenvolvimento, mas sempre com uma distância entre nós. Eu a amava, sim, mas a dor da perda de Helena era um muro invisível que me impedia de me aproximar completamente. Eu não queria que ela sentisse a profundidade da minha dor, não queria que ela carregasse o peso do meu luto. Era uma desculpa, eu sabia, uma forma de me proteger, de não ter que enfrentar a vulnerabilidade que a presença dela me trazia.

Eu me lembro de uma tarde, quando Ana tinha talvez sete anos. Eu estava em meu escritório, imerso em pergaminhos antigos, quando ouvi um pequeno som na porta. Era ela. Minha enteada. Ela estava ali, seus olhos castanhos grandes e curiosos, um desenho em suas mãos.

"Nick?", ela sussurrou, sua voz pequena e hesitante.

Eu levantei a cabeça, e meu coração se apertou. Eu queria sorrir, queria abraçá-la, mas a dor em meu peito era tão intensa que eu mal conseguia respirar. "Sim, Ana?"

Ela estendeu o desenho para mim. Era um desenho de uma família. Um lobo grande, uma loba com cabelos longos, e uma pequena loba entre eles. Era nós três. Helena, eu e ela. Eu senti uma pontada de dor tão aguda que tive que desviar o olhar.

"É a mamãe", ela disse, sua voz um pouco mais forte. "Ela está com a gente."

Eu apenas assenti, incapaz de falar. Eu queria dizer a ela que sim, que a mãe dela estava sempre conosco. Mas as palavras ficaram presas em minha garganta. Eu a vi encolher os ombros, e seus olhos perderam um pouco do brilho. Ela se virou e saiu do escritório, seus pequenos passos ecoando no silêncio. Eu a observei ir, sentindo a culpa me consumir. Eu estava falhando com ela.

A verdade era que eu estava perdido. O Rei Lycan, o líder de um reino, estava perdido em seu próprio luto. Eu governava com justiça, com força, mas meu coração estava em ruínas. A solidão era uma companheira constante, e a única coisa que me mantinha de pé era o dever. O dever para com meu povo, e o dever para com Ana, a última parte de Helena que me restava.

Eu sabia que Ana estava crescendo em um castelo que, para ela, parecia frio e distante. Eu via a forma como ela buscava a companhia dos servos, a forma como ela se refugiava nos livros. Eu via a solidão em seus olhos, e isso me assombrava. Mas eu não sabia como quebrar o muro que eu mesmo havia construído ao redor do meu coração. Eu era o Rei, o protetor, mas em minha própria casa, eu era apenas um padrasto em luto, incapaz de alcançar a enteada que tanto precisava de mim. E assim, os anos se passaram, marcados por essa distância silenciosa, enquanto a pequena Ana crescia na sombra de uma perda que ambos carregávamos.

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