ANA
O Castelo Lycan, com seus corredores ecoantes e salões grandiosos, era um lugar onde a solidão podia se aninhar facilmente no coração de uma criança. Eu já estava acostumada a ela, a essa companheira silenciosa que me seguia como uma sombra, mesmo quando eu estava cercada por tutores e servos. Meus brinquedos eram meus confidentes, e os livros, meus portais para mundos onde eu não estava sozinha. Mas, por mais que eu sonhasse, a realidade era que eu ansiava por uma amiga de verdade, alguém que entendesse o que era crescer sob o olhar distante de um Rei e a ausência de uma mãe. Foi em uma tarde ensolarada, durante uma das minhas explorações solitárias pelos jardins do castelo, que a encontrei. Eu estava tentando subir em uma árvore antiga, com galhos retorcidos que pareciam convidar a uma aventura, mas, como sempre, minha natureza desastrada me traiu. Meus pés escorregaram no tronco úmido, e eu teria caído feio se não fosse por um par de mãos rápidas que me seguraram antes que eu atingisse o chão. Levantei a cabeça, um pouco envergonhada, e encontrei um par de olhos verdes vibrantes me encarando com uma mistura de surpresa e diversão. A garota à minha frente tinha cabelos loiros que brilhavam como ouro sob o sol e um sorriso largo que iluminava todo o seu rosto. Ela era um pouco mais alta que eu, esguia, mas com uma energia que parecia contagiante. "Você está bem?", ela perguntou, a voz cheia de uma doçura que me fez sentir instantaneamente à vontade. "Sim, eu acho", eu respondi, sentindo minhas bochechas corarem. "Eu sou Ana." "Eu sou Thalia", ela disse, estendendo a mão para me ajudar a ficar de pé. Sua mão era firme e quente. "Você é a filha do Rei, não é? Eu nunca te vi por aqui." Eu assenti, um pouco tímida. "Eu... eu costumo brincar sozinha. E você? De onde você veio?" "Eu sou da alcateia do Leste", ela explicou, seus olhos verdes curiosos. "Meus pais vieram para uma reunião com o Rei Dominic. Eu costumava vir aqui quando era mais nova, mas agora que sou um pouco mais velha, posso explorar mais." Naquele dia, Thalia se tornou a luz que eu não sabia que precisava. Começamos a conversar, sentadas sob a sombra daquela mesma árvore. Ela me contou sobre sua alcateia, sobre as vastas planícies férteis e as colheitas. Eu, por minha vez, contei sobre o castelo, sobre os tutores e as lições, e sobre a solidão que eu sentia. Ela ouvia com uma atenção genuína, e pela primeira vez, eu senti que alguém realmente me entendia. A partir daquele dia, Thalia se tornou minha melhor amiga. Eu a apelidei carinhosamente de Lia, porque o nome me lembrava algo suave e familiar, e ela não se importou. Sempre que seus pais vinham ao castelo para as reuniões com meu padrasto, Lia vinha correndo para me encontrar. Nossos dias eram preenchidos com risadas e aventuras. Explorávamos cada canto do castelo, transformando os corredores em campos de batalha imaginários e os jardins em florestas encantadas. Ela era tão brincalhona quanto eu, e sua natureza carismática e corajosa me encorajava a ser mais ousada. Com Lia, minha timidez inicial começou a diminuir. Eu ainda era um pouco desastrada, mas ela ria comigo, não de mim, e isso me fazia sentir mais confortável em minha própria pele. Compartilhávamos segredos de crianças, sonhos e medos. Ela me fazia sentir normal, algo que eu raramente sentia vivendo no castelo. Nossas conversas, à medida que crescíamos, começaram a se voltar para o futuro, para o que significava ser uma lobisomem. Aos doze anos, era o momento da nossa primeira transformação, quando nosso lobo interior despertaria. Era um assunto de grande excitação e um pouco de nervosismo para todas as crianças lobisomens. "Você acha que vai doer, Lia?", eu perguntei uma tarde, enquanto estávamos sentadas perto do lago do castelo, jogando pedrinhas na água. Eu tinha uns dez anos na época, e o meu décimo segundo aniversário parecia uma eternidade e, ao mesmo tempo, estava logo ali. Lia encolheu os ombros, seus olhos verdes refletindo o brilho da água. "Mamãe disse que é como ter todos os seus ossos se quebrando e se refazendo ao mesmo tempo. Mas ela também disse que é a sensação mais incrível do mundo depois que passa. É como se você se tornasse completa." A ideia de ter um lobo dentro de mim, de sentir a força e os instintos lupinos, era algo que me fascinava. Eu sonhava em correr pela floresta, sentindo o vento em meu pelo, uivando para a lua. Lia e eu passávamos horas imaginando como seriam nossos lobos. Ela queria um lobo ágil e forte, para correr e caçar. Eu, bem, eu só queria que o meu lobo fosse bonito e que não me fizesse tropeçar. Mas a transformação aos doze anos era apenas o começo. Aos dezoito, era quando a Deusa da Lua revelaria nosso companheiro. Essa era a parte mais emocionante de todas. Todas as histórias que eu ouvia, todos os contos de amor e destino, giravam em torno desse momento mágico. O companheiro era a outra metade da sua alma, alguém escolhido pela Deusa para ser seu par perfeito. "Eu espero que meu companheiro seja forte e corajoso", Lia disse um dia, seus olhos sonhadores. "E que ele me ame mais do que tudo no mundo." "Eu também", eu concordei, meu coração batendo mais rápido com a simples ideia. "Eu quero alguém que me veja de verdade, que não se importe se eu for um pouco desastrada. Alguém que me faça rir." Eu pensava em meu padrasto, tão sério e distante, e em como eu ansiava por alguém que trouxesse calor e alegria para minha vida. Eu queria um amor que fosse leve e divertido, como a minha amizade com Lia. Nós falávamos sobre nossos futuros companheiros com a inocência de crianças, imaginando príncipes encantados e almas gêmeas que nos levariam para longe, para uma vida cheia de amor e aventura. Eu sonhava com um homem gentil e atencioso, que me fizesse sentir segura e amada, que preenchesse o vazio que a ausência da minha mãe havia deixado. Alguém que me fizesse sentir que eu pertencia. Lia era a única pessoa com quem eu podia compartilhar esses sonhos e medos. Ela era minha confidente, minha aliada leal. Com ela, eu não me sentia sozinha no vasto castelo. Ela preenchia um pouco do vazio, e eu era grata por sua amizade. Juntas, esperávamos o dia em que nossos lobos despertariam, e o dia em que a Deusa da Lua nos revelaria nossos destinos. Mal sabíamos nós o quão surpreendente e, para mim, chocante, esse destino