VIENA – MANSÃO SANTORINI – 08h10
O sol atravessava as janelas como lâminas douradas. Mas na casa, não havia luz. Havia silêncio. O tipo de silêncio que vem após uma vitória cara demais.
Mikhail estava deitado no quarto de hóspedes, o ombro enfaixado. Os médicos disseram que o projétil passou rente à clavícula, mas não atingiu órgãos vitais.
Mesmo assim, ele não dormia. Só pensava.
Pensava no que quase perdeu.
Pensava na sensação de ser útil… e vulnerável.
Amara entrou sem bater.
— Trouxe chá — disse ela, colocando a bandeja na mesa.
Ele não se moveu.
— Ouvi dizer que você não aceitou morfina.
— Não gosto de esquecer a dor.
Ela se sentou na poltrona ao lado.
— Porque te lembra que está vivo?
— Porque me lembra de tudo que me ensinaram.
Ela o olhou. Os olhos dele estavam diferentes. Mais fundos. Mais maduros. Mas também, mais tristes.
— Você salvou meu filho, Mikhail.
— Quase matei todos.
— Mas não matou. E isso... isso é o que conta.
Ele a encarou.
— O que acontece agora?
Ela suspirou.