Passos na Memória
A primeira luz da manhã filtrou-se pelas cortinas brancas do quarto de Josué, pintando arabescos dourados sobre o lençol de algodão cru.
Ele abriu os olhos sentindo o coração compassado demais, como se o próprio corpo estivesse tentando lembrá-lo de onde estava.
O cheiro de café fresco chegava em ondas suaves, misturado ao perfume da dama-da-noite que ainda se desprendia do jardim.
Por um instante, tudo parecia tão familiar que o medo dos lapsos esmoreceu:
Havia aroma, cor e som, coordenadas seguras para começar o dia.
Artur entrou devagar, batendo de leve na porta.
Vestia roupa de ginástica, um leve suar frio na testa que denunciava a corrida curta que fizera em volta do pasto.
Nas mãos, levava um par de tênis novos.
— Pai, vamos experimentar esses? Perguntou, pousando o calçado sobre a poltrona.
— O fisioterapeuta disse que caminhar ao ar livre, em terreno variado, ajuda o cérebro a criar novas sinapses.
Josué ergueu as sobrancelhas.
Se