Rascunhos de Memória
O sol de fim de tarde atravessava as frestas das persianas do escritório, riscando a madeira do piso em tiras quentes de luz.
O leve cheiro de verniz misturava-se ao perfume adocicado do jasmim-manga que cercava a janela.
Josué sentou-se à escrivaninha antiga, acariciando a lombada de um caderno de capa dura. Ao seu lado, Artur observava com atenção:
O pai usava os óculos de leitura, mas hesitava antes de abrir a primeira página, como se temesse que o papel em branco cobrasse explicações que ele ainda não sabia dar.
— É só um diário, pai. Sussurrou Artur, pousando os dedos sobre o tampo frio.
— Nada precisa ficar perfeito. Basta…
—ficar.
Josué soltou o ar num sopro breve. Sentiu um formigamento correr-lhe o antebraço direito, não era tremor, mas como descrevera à médica, uma “corrente fina” que às vezes anunciava lapsos.
Virou a capa devagar. O contato do polegar com o papel áspero lhe pareceu reconfortante, como se a textura servisse de anco