O borra-botas ainda estava se recuperando ao seu lado, com o olhar preocupado. Dona Carmen não estava entendendo nada, e eu já tentava pensar em uma boa desculpa para o picadinho estar tão absurdamente picante.
— Tudo bem, meu filho? Já consegue falar?
Ele acenou, colocou o copo vazio sobre a mesa e me lançou um olhar nada amigável.
Então pigarreou.
— Só engasguei, mãe... Agora me sinto melhor — sua voz saiu rouca.
Deveria me preocupar com o fato de ele não ter me entregado para a mãe? Melhor eu ficar vigilante pelos próximos dias. Meu pai sempre dizia: “Maldito o homem que confia no homem.”
— Vai precisar de mim, senhora Carmen?
Ela voltou a atenção para mim.
— Não, pode se retirar.
Quando fiz menção de sair, o infeliz ergueu a mão na minha direção, pedindo que eu esperasse. Depois pegou a pequena travessa onde estava o picadinho.
— Pode levar o picadinho. Está muito salgado. Não foi a Maria que fez, né? — A pergunta, acompanhada do olhar enfurecido, deixava claro que ele não ia deix