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Cap 07: Desenfreada

Acordei com o canto de Jericó. Olhei no relógio: eram quatro da manhã. O dia hoje seria bastante atarefado; tinha as baias, o galinheiro e o chiqueiro para lavar. Levantei-me e fiz minha higiene matinal. Ainda era cedo para o café — na verdade, costumo fazer meu desjejum um pouco mais tarde.

Após calçar as galochas, peguei o cesto e fui primeiro ao galinheiro.

— Bom dia, Jericó! — Ele, metido como sempre, estufou o peito e bateu as asas, cantando alto. — Sei que você é o dono desse pedaço, mas agora se afasta, que vou pegar alguns ovos das suas mulheres. — Espantei-o, e ele fez um barulho como se estivesse resmungando, correndo para o outro lado do galinheiro.

Fui ao primeiro ninho, onde havia três ovos.

— É, Marinalva, ocê tá caindo na produção. Se continuar desse jeito, o Vitor vai fofocar pra dona Carmen, e aí ocê vai virar galinhada. Então trate de melhorar isso aí. Ocê percebeu que a Filó sumiu? Adivinha? Virou galinhada.

Ela caquerejou, parecendo entender o meu alerta — aqui é assim: quando as galinhas caem na produção, as pobres vão todas pro abate. Enquanto enchia as duas cestas de ovos, o galinheiro estava agitado por demais: eram mais de duzentas galinhas. Uma barulheira só — galinha voando, ciscando e, algumas atrevidas, bicando minha galocha.

Depois de coletar os ovos, pendurei as cestas, prendi as galinhas em outra parte e comecei a fazer a limpeza do galinheiro. Com tudo limpo e organizado, peguei o cesto e me dirigi à casa-sede.

Enquanto seguia para a casa-sede, a peãozada já se preparava para carregar o caminhão que levaria o gado para o abate. Não gosto muito dessa parte — meu coração é mole por demais. O frigorífico ficava próximo à fazenda. Além da grande produção de gado de corte e leiteiro, somos um dos maiores produtores de soja.

Aqui faço de tudo um pouco; cresci ajudando meu pai em todas as tarefas. Ele era o homem de confiança do seu Joaquim — eram grandes amigos.

— Bom dia, Cecília! — me cumprimentou o Roberto. Ele é o responsável por levar o gado até o frigorífico.

— Bom dia, seu Roberto — ofereci um largo sorriso e continuei indo em direção à casa.

Quando passei pelo pé de manga, vi um fruto que acabara de cair no chão. Apanhei a manga, limpei na minha blusa e saí saboreando — estava tão docinha.

Conforme me aproximava da cozinha, ouvi o canto da Maria:

"Seu moço, eu já fui roceiro

No Triângulo Mineiro

Onde eu tinha meu ranchinho…"

Ela estava tão focada no banquete que preparava para o café da manhã que nem percebeu minha presença. Devagarinho, depositei as cestas na mesa e, nas pontas dos pés, me aproximei dela. Então cutuquei sua cintura com o dedo. Ela deu um grito.

— Ai, menina! Um dia ocê vai me matar do coração! — resmungou, levando a mão ao peito.

Gargalhei com sua reação.

— Desculpa, eu, Maria — beijei sua bochecha.

Ela limpou o lugar.

— Me sujando com essa manga… Se apressa, vai lavar essas mãos. — Me empurrou na direção da pia.

Achando graça, joguei o caroço da manga no lixo e, em seguida, lavei as mãos.

— Vem me ajudar aqui. Coloca essas broas de milho pra assar. Meu menino me pediu pra fazer essas broas — ele ama. Quando era pequeno, me ajudava até a fazer — comentou com um sorriso orgulhoso.

Não me contenho e reviro os olhos.

— Aquele barbudo que ocê chama de “meu menino” fez uma baita cachorrada comigo ontem. Passou em alta velocidade com aquele carrão, me fazendo comer poeira. E sabe quem estava junto com ele? Vitor e Bento. Não vou deixar barato — vou me vingar deles.

Maria me lançou um olhar de reprovação, que me deixou ainda mais indignada.

— Cê pode se vingar do Vitor e do Bento… mas do Álvaro? É melhor ocê nem sonhar em fazer besteira. Ele é o seu patrão — me repreendeu.

Balancei a cabeça em negativa, inconformada com o tanto que todos bajulavam aquele infeliz.

Sem querer estender a discussão, em silêncio coloquei a forma com as broas no forno.

— Agora leve essa jarra de suco e o queijo lá pra mesa dos patrões. A senhora Carmen e o Álvaro, a essa hora, já estão de pé.

Peguei a jarra com suco e o queijo, e ela pegou o bolo e uma travessa de biscoito peta. Juntas, começamos a montar a mesa para o café da manhã.

— Vou buscar o leite e as frutas — anunciou, saindo em seguida.

Continuei meu trabalho, nada feliz.

— Bom dia, Cecília — a voz da dona Carmen ecoou atrás de mim.

Virei rapidamente e, com um leve aceno, a cumprimentei.

— Bom dia, senhora!

Ela se sentou com toda fineza; seus brincos e colar de pérolas davam a ela ainda mais elegância. Todos os dias ela estava assim: bem arrumada. Eu nunca vi um fio de cabelo dessa mulher fora do lugar — nem nas duas primeiras semanas após a morte do seu Joaquim. Até no momento mais difícil do luto, ela estava linda e fina. Já eu, nem banho queria tomar; se não fosse o Bento me ameaçar jogar no chiqueiro, os urubus tinham me carregado.

— Vai ficar aí parada me olhando, menina?

Sua voz fria me despertou de minhas lembranças.

— Perdão, senhora — murmurei e, como uma galinha com medo, esbarrei nas cadeiras. Sorri sem jeito e apressei os passos em direção à cozinha.

A Maria passou por mim com um bule e uma travessa de frutas.

— Maria, se não for precisar mais da minha ajuda, vou indo lavar os chiqueiros.

— Pode ir, mas volta pra me ajudar com o almoço.

— Eu volto — saí correndo.

Quando cheguei ao chiqueiro, o Vitor já estava lá, tratando dos porcos. Passei por ele sem dizer uma palavra. E, diferente das outras vezes, ele me ignorou.

Por mim! Não ligo! Tô nem aí pra ele.

Comecei a lavar o chiqueiro e cantarolar; não ia dar a ele o gostinho de pensar que eu estava triste. E foi ele que começou com a briga — então ele que me peça perdão primeiro. Aí, vou pensar se ele merece meu perdão.

Após tanto trabalho, eu merecia um banho de cachoeira. Guardei a pá e o rastelo, celei o Menino e fui para a cachoeira.

Ao chegar, percebi que havia um dos cavalos da fazenda embaixo da árvore onde costumo deixar o Menino. Desconfiada, com passos lentos, tentei ver se o Bento estava ali para me pregar uma peça.

Em cima da pedra havia umas roupas. Reparei bem, e não eram do Bento. Quando voltei meu olhar para a queda-d’água, eu vi meu inimigo.

O que esse miserável faz aqui? A essa hora ele não devia estar se empanturrando com as benditas broas de milho?

A raiva subiu.

Mas, voltando minha atenção para as roupas em cima da pedra, vi ali uma oportunidade de me vingar. Um sorriso malicioso se desenhou nos meus lábios quando peguei as roupas — e a cueca dele caiu no chão.

— Então tá tomando banho do jeitinho que veio ao mundo, né? Quero ver a cena quando chegar lá na sede tampando aquelas coisas suas… — murmurei para mim mesma.

Com as pontas dos dedos, peguei a cueca, enrolei junto com as roupas e, devagar, me afastei. Peguei as rédeas dos dois cavalos e, fazendo o mínimo de barulho, fui saindo de fininho.

— Ei, moça — a voz grave dele me fez parar.

Devagar, virei. Engoli a saliva que se formou. Aquele peitoral largo, agora nu, bem ali na minha frente… ele era danado de forte.

— O que pensa que está fazendo? — apontou para as roupas em minhas mãos.

Recuperei a compostura, ergui o queixo e o encarei com desafio.

— O que acha que eu tô fazendo?

Ele riu.

— Com minhas roupas na sua mão, não me resta dúvida de que todo esse ódio é amor… e que você tá levando minhas roupas pra ficar cheirando quando estiver sozinha na sua casa.

O sarcasmo dele fez meus dentes rangerem.

Dei uma gargalhada debochada.

— Até parece! Vou é colocar essas roupas imundas junto com os porcos, seu borra-botas!

Ele riu como quem não se importa com as minhas provocações.

— Traga as minhas roupas… ou eu vou aí buscar.

— Nem morta!

— Tudo bem — disse ele. E começou a andar. A água que cobria seu peito foi descendo, revelando o umbigo…

Ele não é louco de sair pelado daqui, pensei. Só está me testando.

Apertei as roupas contra o peito, imóvel, tentando manter a postura.  Mas o que eu não esperava… ele fez. Aquele homão saiu da água nu. Completamente nu.

Eu nunca tinha visto um negócio daquele. Meu coração acelerou, minha respiração saiu toda desenfreada, e quando consegui reagir,  saí correndo dali igual uma doida — deixando até os cavalos para trás.

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