Um mês depois...
Fazia um mês que eu e o Pardal estávamos livres daquele inferno. E mesmo assim, ainda parecia que eu estava lá. Ainda escutava os gritos na minha cabeça quando tentava dormir, ainda acordava no susto achando que estava cercado. Mas agora eu acordava com outra coisa: choro de bebê.
Eu estava na boca principal resolvendo uns corres. Nego Rato tinha segurado bem a bronca, organizando as vendas, mantendo a rapaziada na linha. Eu estava orgulhoso. Pela primeira vez na vida, eu estava tentando fazer a porra certa. Tentando não morrer. Tentando viver.
Minha vida estava diferente pra caralho. Muito. Noites sem dormir, fraldas sujas, Pedro chorando do nada, Isabela puta porque não dormiu, a casa parecendo um campo de guerra. Mas eu? Eu estava feliz. Porra, eu estava feliz demais.
Eu estava com a minha família. Na minha quebrada. No coração da Rocinha.
Entrei no carro e subi a rua estreita, desviando dos moleque jogando bola, das velhinha com sacola, dos pivete gritando “o