Elana Kingsley sempre sonhou em ser escritora, mas a vida real nunca foi generosa com ela. Depois de uma série de decepções, ela se vê sozinha em Nova Iorque, agarrando-se aos poucos fragmentos de esperança que ainda lhe restam. Entre cartas nunca enviadas ao seu primeiro amor e rascunhos de romances engavetados, Elana tenta sobreviver às sombras do passado. Contudo, em um ato impulsivo regado a vinho e lágrimas, ela compartilha nas redes sociais um vídeo íntimo de suas cartas antigas, sem imaginar que, em poucas horas, seu vídeo se tornaria viral e transformaria sua vida. O inesperado sucesso chama a atenção da prestigiada Editora Buzzy, cujo CEO é ninguém menos que Gabriel, o melhor amigo e primeiro amor secreto que ela abandonou e sem despedidas, há quinze anos. Frio, ressentido e agora irremediavelmente profissional, Gabriel parece disposto a tratá-la apenas como mais um contrato. Mas quando antigas emoções ressurgem e Gabriel passa a ocupar mais do que as reuniões de negócios, Elana se vê dividida entre o medo de reviver as dores do passado e a tentadora possibilidade de reescrever sua história. Ao lado dele, desta vez.
Ler maisO som estridente de um copo se estilhaçando contra a parede preencheu a sala. O peito de Elana subia e descia rapidamente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar da dor que a sufocava. Diante dela, Michael mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender das acusações que caíam sobre ele como uma tempestade.
— Você acha que eu sou estúpida, Michael? — A voz dela saiu embargada, mas firme. — Eu vi as mensagens, eu vi as fotos. Não tem mais desculpas, não tem mais mentiras.
Michael passou a mão pelos cabelos escuros, o rosto contraído em uma expressão de exasperação.
— Elana, não é o que você está pensando...
Ela soltou uma risada amarga.
— Não? Então me explica, porque pelo que eu vi, você está com outra mulher! Faz tempo, não faz? — Seus olhos ardiam, mas ela se recusava a chorar. Não na frente dele.
O silêncio que se seguiu foi a confirmação que ela precisava. Michael desviou o olhar, os ombros caídos em derrota. Ele não tinha nada a dizer. Nenhuma justificativa, nenhuma tentativa de negar. E isso doía ainda mais do que se ele tivesse mentido.
Aproveitando o silêncio, Elana rolou as fotos do não tão novo casal, no celular do seu marido e parou em uma específica, sentindo seu coração parar.
— Ela está grávida... — ela murmura, erguendo o olhar molhado para ele. — Em dez anos de casamento, tudo o que eu mais pedi, foi um filho. Nunca estava na hora para termos um... bem, não estava na hora comigo, pelo visto.
Michael abriu a boca para falar algo, mas se conteve. O olhar dele, era a confirmação de tudo o que Elana temia. A traição não era apenas uma aventura passageira; ele tinha construído uma vida paralela, e agora havia uma vida crescendo disso.
Elana sentiu as pernas fraquejarem. Sua respiração ficou curta, um aperto sufocante em seu peito a fez cambalear para trás. Ela agarrou a beirada da mesa para se manter de pé. Não conseguia processar a magnitude daquilo. Todas as discussões, todas as vezes em que Michael dizia que não era o momento certo, que queriam coisas diferentes. E, no fim, ele queria sim um filho. Apenas não queria com ela.
— Elana... — Michael tentou se aproximar, mas ela levantou a mão, como se seu toque fosse tóxico. — Eu não queria te machucar.
— Não me toca. — Sua voz saiu trêmula, mas cheia de firmeza. — É um pouco tarde para você se preocupar comigo. Eu vou embora. Eu me recuso a passar mais um segundo sob o mesmo teto que você.
Ela não esperou resposta. Caminhou até o quarto, puxando uma mala debaixo da cama e atirando dentro dela algumas mudas de roupa. Seu corpo tremia, suas mãos estavam suadas, mas sua decisão estava tomada. Michael permaneceu na porta, assistindo, mas sem coragem de impedi-la. Ele sabia que não havia nada que pudesse dizer ou fazer para mudar aquela realidade.
Com a mala fechada, Elana cruzou a sala pela última vez. Olhou para Michael, que parecia menor, mais frágil, mas não sentiu pena. Apenas vazio. Ele havia destruído tudo.
Ao sair pela porta, uma lágrima solitária escorreu por seu rosto. Mas ela não olhou para trás. Elana desceu até a garagem do prédio e entrou na única coisa que a pertencia naquele casamento.
Seu carro.
Elana entrou no carro e fechou a porta com força, mas o som não conseguiu abafar o soluço que escapou de seus lábios. Seus dedos tremiam ao apertar o volante, enquanto as lágrimas que ela havia segurado por tanto tempo, finalmente rompeu a barreira do orgulho.
Ela se inclinou para frente, apoiando a testa no couro frio do volante, e deixou que a dor a atravessasse. O choro era silencioso no início, apenas lágrimas quentes escorrendo pelo seu rosto, mas logo se transformou em um pranto descontrolado. Seu peito subia e descia com dificuldade, como se o ar tivesse se tornado pesado demais para ser inspirado.
Por anos, ela acreditou em Michael. Acreditou que ele a amava, que estavam construindo uma vida juntos, que um dia seus sonhos se alinhariam e que teriam o futuro que sempre planejaram. Mas tudo isso tinha sido uma ilusão. Ela o amava — Deus, como o amava! — mas agora entendia que amar alguém não era suficiente quando essa pessoa não te escolhia de volta.
O nó em sua garganta apertou ainda mais ao lembrar das noites em que discutiram sobre ter filhos. Das vezes em que ele dizia que não era o momento certo, que precisavam esperar mais um pouco, que ela devia ser paciente. Mentiras. Tudo mentira. Ele queria um filho, sim, só não queria um com ela.
Na costa gelada de Cape Cod, Massachusetts, a casa de praia de Elana e Gabriel era o ponto de encontro anual para as datas comemorativas. A construção ampla, com janelas que davam para o mar coberto por uma névoa invernal, estava decorada para o Natal, com luzes piscando na varanda e uma árvore imensa brilhando na sala de estar. Era véspera de Natal, e a neve caía suavemente lá fora, cobrindo o gramado com um manto branco. O aroma de chocolate quente e biscoitos recém-assados enchia a casa, misturando-se ao crepitar da lareira. Elana se consolidara como uma autora renomada, com cinco livros publicados, cada um mais aclamado que o anterior. Gabriel transformara a editora em uma das mais respeitadas do país, sempre com Elana como sua maior inspiração. Juntos, eles construíram uma família cheia de amor, risadas e aventuras. No quintal, coberto por uma fina camada de neve, Elana ajustava uma guirlanda na porta de correr, o cabelo com alguns fios grisalhos que ela exibia com orgulho, emb
A capela do castelo, com suas paredes de pedra antiga e vitrais coloridos, estava decorada com elegância sutil: arranjos de rosas brancas e lavandas adornavam os bancos de madeira polida, e a luz suave que entrava pelos vitrais criava um mosaico de cores no chão. O aroma delicado das flores misturava-se ao frescor da brisa que vinha dos vinhedos, e o som de um quarteto de cordas ecoava suavemente, tocando uma melodia clássica que preparava o ambiente para a cerimônia. As duas desceram as escadas de pedra do castelo, o som dos saltos ecoando nos corredores antigos. Uma limusine branca as aguardava na entrada interna que levava diretamente à capela, a poucos metros dali, garantindo que Elana chegasse impecável. Dentro da limusine, Isabella segurou a mão de Elana, o olhar cheio de carinho. — Você está deslumbrante. O Gabriel não vai saber o que fazer consigo mesmo quando te vir. Elana riu, apertando a mão da amiga. — Só espero que ele não desmaie. — Eu também. — respondeu Isabella
Um ano havia se passado desde aquela noite mágica no topo da Torre Eiffel, e a vida de Elana e Gabriel havia mudado de maneiras que nenhum dos dois poderia ter previsto. A turnê de leituras do livro de Elana fora um sucesso estrondoso, com multidões lotando livrarias e eventos literários em várias cidades. Era o dia do casamento, um sábado ensolarado em uma charmosa vila nos arredores de Paris. O local, um castelo restaurado com jardins impecáveis, parecia saído de um conto de fadas, escolhido a dedo por Gabriel para refletir a grandiosidade do momento. No quarto reservado para a noiva, o vestido de casamento de Elana estava pendurado em um cabide ornamentado, um modelo de renda branca com detalhes delicados. A cauda longa repousava suavemente no chão, e o véu, preso ao lado, esvoaçava com a brisa suave que vinha do jardim. Elana, no entanto, não estava se arrumando. Sentada na beira da cama, ainda de robe, ela estava absorta, o notebook aberto em seu colo. Seus dedos voavam pelo te
Quando as portas do elevador se abriram, eles foram recebidos por um maître que os conduziu a uma mesa cuidadosamente preparada, isolada em uma área exclusiva do restaurante. A decoração era minimalista, mas sofisticada, com velas tremeluzindo e uma vista de tirar o fôlego através das janelas panorâmicas. Paris se estendia abaixo deles, um tapete de luzes que parecia pulsar com a energia da cidade. Elana ficou sem palavras, girando lentamente para absorver tudo. — Gabriel... isso é incrível. — sussurrou, virando-se para ele com um sorriso que fez o coração dele disparar ainda mais. — Só o melhor para você, amor. — disse ele, puxando a cadeira para ela se sentar. O jantar começou com uma taça de champanhe, seguida por pratos delicados que misturavam sabores franceses com uma apresentação impecável. Elana e Gabriel conversavam e riam. Ela contava histórias engraçadas das leituras da turnê, enquanto Gabriel, esperava o momento perfeito. No meio do jantar, quando o garçom servia o pr
Elana corou, girando o vestido levemente, a saia esvoaçante capturando a luz. — Culpa da Isabella. Ela escondeu esse vestido na minha mala. — Ela riu. — Acho que ela sabia que essa noite ia ser especial antes de mim. Gabriel se aproximou, segurando as mãos dela, o olhar cheio de amor. — Ela conhece você melhor que você mesma. — Ele fez uma pausa, encarando-a de cima a baixo. — E, sim, essa noite vai ser mais especial do que você imagina. Elana inclinou a cabeça, notando algo em seus olhos. — Gabriel, você está estranho. O que está acontecendo? — Nada, só... estou ansioso para te levar para esse jantar. — respondeu ele. — Vamos? Acho que se eu passar mais um minuto nesse quarto com você, gostosa desse jeito, não iremos jantar em lugar nenhum e você será a minha comida. Elana riu alto, o rosto corando ainda mais enquanto dava um leve tapa brincalhão no peito dele. — Gabriel! Se comporta! — Ela pegou a bolsa, ainda rindo, e o olhou com um sorriso travesso. — Mas confesso que
— É exatamente porque eu confio em você, que estamos aqui. — Elana para de andar e olha para Gabriel. — Você acreditou em mim e no meu livro, coisa que ninguém jamais fez. E é graças a isso, que hoje eu estou em uma turnê com um livro que eu amei escrever e com um projeto para um segundo livro em aberto. Gabriel ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela, o coração aquecido por sua sinceridade. Ele sorriu, puxando-a para mais perto e apoiando a testa contra a dela. — Eu acredito em você desde que você ganhou aquele papel para ser uma arvore falante na escola. Quando você ficou com medo de esquecer todas as falas, por ter diversas pessoas te encarando. Elana, eu sempre soube que você era especial. O seu livro, a sua paixão... isso tudo é você. Eu só dei um empurrãozinho. Você fez o resto. — Ele fez uma pausa, os olhos brilhando com orgulho. — E agora, em Paris, a gente vai celebrar tudo isso. Você merece. Elana riu, a lembrança da peça escolar trazendo uma levez
Último capítulo